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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pio XII era mesmo culpado?



Muitas vezes a história, por pior que o pareça, é distorcida e controvertida. O caso mais nefando que se pode contar entre o número destas barbáries é, sem dúvida o caso do Papa Pio XII que foi acusado de apoiar Hitler na chamada “solução final”. Disso o acusaram os autores Rolf Hochhuth, na peça teatral “O Vigário de Cristo”[1] e Jonh Cornwell na obra “O Papa de Hitler”[2].


Não obstante a vociferação inútil em prol de denegrir a imagem do Grande Papa dos Judeus, vozes advogadas destinaram seus esforços em trazer à tona a verdade dos fatos de modo a colocar a história de novo no eixo da verdade.
O jornalista Andrea Tornielli, nascido em Chioggia (Itália) em 1964, licenciado em Letras clássicas, recolheu num volume muito denso e não menos completo, os testemunhos em favor da postura de Pio XII.
Em seu livro “Pio XII, o Papa dos Judeus” Tornielli procura não só apontar os fatos históricos relativos àquela sombria época, mas os documenta e recorre a inúmeros autores (uma lista bibliográfica de oitenta e um livros consultados) para abalizar a verdade sobre os fatos.
Tornielli, além de evidenciar os erros de pesquisa de Cornwell, mostra ainda que a aquela pseudo pesquisa que visou denegrir o Papa dos Judeus não foi tão acurada assim, uma vez que os registros de entrada da Biblioteca Vaticana só guardam de Cornwell três únicas visitas. Corrige também, várias vezes, erros de datação cometidos pelo autor de “O Papa de Hitler”.
Percorre muitíssimos documentos, não só da Santa Sé, mas também de embaixadas e governos para mostrar a voz de Pio XII contra a Shoa e o nacional socialismo. Outrossim, recorda os grandes manifestos de Judeus agradecidos pela intervenção do Papa na luta por esconder os Judeus perseguidos – desde as grandes deportações em massa, passando pela abertura dos mosteiros, conventos (inclusive a quebra das clausuras papais) e a abertura das nunciaturas até as portas abertas de Castel Gandolfo e do Vaticano que acolheram um número expressivo de Judeus fugidos da perseguição nazi.


Recolhe tanto os pedidos de intervenção antes e durante a Grande Guerra quanto os agradecimentos enviados por eminentes judeus no pós-guerra. Apresenta em números as ajudas do Papado e apresenta assim a grande influencia da Igreja por meio de Pio XI e Pio XII.
Da nunciatura em Alemanha ao Trono Pontifício no Vaticano, Eugenio Pacelli traçou o mais importantes liame entre judeus, cristãos e poder temporal por meio de uma intrincada rede de influências – quer oficiais, por meio das nunciaturas, que extra oficiais, por meio de suas ordens secretas aos núncios, bispos, padres e religiosos, em favor de salvar o maior número possível de Judeus.
O ponto máximo do livro, certamente é tornar claro o labirinto político e diplomático no qual se encontrava Pio XII e que o levou a tomar as posturas políticas que fizeram a história acontecer:

“No discurso ao Sacro Colégio por ocasião da festa de Santo Eugenio, Pio XII diz claramente e com todas as letras que há pessoas que, por causa da sua pertença a uma determinada estirpe são submetidas a ‘coações exterminadoras’. ‘Por outro lado, não vos admireis, veneráveis irmãos e dilectos filhos, se o nosso espírito responder com solicitude particularmente cuidadosa e comovida às súplicas daqueles que se dirigem a nós, ansiosamente, atormentados como estão por razão da sua nacionalidade ou da sua estirpe, por maiores desgraças e com dores mais agudas e destinados, por vezes também sem culpa sua a coacção exterminadoras. Não esqueçam os que regem os povos que aquele que (para usar a linguagem da Sagrada Escritura) ‘detém a espada’ não pode dispor da vida e da morte dos homens, a não ser  segundo a lei de Deus, de quem lhe vem todo o poder”
(TORNIELLI, A. Pio XII, O Papa dos Judeus. Livraria Civilização Editores, Porto.)



O autor coloca ainda em paralelo com as ações da Santa Sé naquele nefando episódio as parcas ações de autoridades Aliadas em favor dos judeus.
O Livro Pio XII, o Papa dos Judeus tem 399 páginas que incluem um apêndice com reproduções de autógrafos de Pacelli – incluindo as correções autógrafas de Eugenio Pacelli na Mit brennender Sorge[3] e foi editado pela editora portuguesa Livraria Civilização Editores, Porto. Um Livro que realmente traz à luz uma parte da história que se tentou manter obscurecida.


[1] Hochhth R., Der Stellvertreter, Rohwolt Verlag, Hamburgo 1963; ________. Il Vicario, Feltrinelli, Milão 1964
[2] Cornwell, J., Il Papa di Hitler, Garzanti, Milão, 2000.  
[3] “Com profunda preocupação” de 14 de Março de 1937. Carta Encíclica de Pio XI que fez a condenação expressa e formal dos erros do nacional-socialismo alemão (nazismo).

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Conversão Da Princesa


O Senhor havia dito que é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico entrar no céu (cf. Mt 19,24) e, como sempre, não estava errado! Muitas vezes, junto com a riqueza matéria, social e até cultural, vem um sentimento de auto-suficiência que leva-nos ao fechamento. Por este motivo um rico não entra no reino do céu!

O reino do céu é participação em Deus, no Cristo, por meio do Espírito Santo – o que é fruto do amor, uma vez que é a abertura para o bem, quer contemplado, quer experimentado, quer feito. O fechamento a isso (a auto-suficiência, portanto) é o que chamamos de egoísmo.
Não raro vemos também tais atitudes nas pessoas financeiramente menos abastadas e esse fato põe a claro que a “riqueza” de que Jesus fala não está relativa à quantidade de bens, mas à quantidade de apego a nós mesmos e a nossas coisas, de ordem material, emocional ou espiritual.

A Princesa Dona Alessandra Romana dei Principi Borghese, em seu livro “Com Olhos Novos, a história da minha conversão” [Publicado em português pela editora portuguesa DIEL em outubro de 2006], põe diante de nós, nas linhas que testemunham seu encontro com Cristo, o “NOVO de Deus” a que sua gradual experiência a conduziu: a compreensão de que era necessário abandonar-se nas mãos de Deus reconhecendo que “... todos nós não passamos de filhos necessitados de perdão, de compreensão, de amor, de esperança. Mas todos sob um olhar onde convivem misericórdia e justiça.” (BORGHESE, A. Com Olhos Novos, a história da minha conversão. Lisboa. DIEL, 2006 p. 16).


Uma profunda vivência que ultrapassa, com o amor, a mera teoria e, gerando uma mudança no coração fez sua vida ser vista com olhos novos. Ao concluir seu livro, a autora declara sonoramente aos homens e mulheres de hoje:

“Seja o que Deus quiser. Digo-o com firmeza, pois doravante sei que minha fé não é cega nem sentimental. É antes um acto de libérrima obediência Àquele que, como vim finalmente a descobrir, estava apaixonado por mim (Ibid. p.190).

Certamente um testemunho de conversão que também nos levará a considerar a nossa vida com olhos novos.


sábado, 23 de outubro de 2010

Vocação, Medos e Armas



Nota: Escrevi e publiquei este artigo no Jornal Rio Bonito Católico da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição - Rio Bonito/ Centro, no mês de Agosto de 2010.
CARVALHO, Fabiano. Vocação, Medos e Armas.Rio Bonito Católico, Rio Bonito, Agosto 2010.
 

Não muito cedo, em minha experiência vocacional com Deus, tive a plena certeza de que era necessário perder o medo para deixar as armas para traz e isso me deu condições de visibilidade no horizonte da vida, que nem sempre é límpido e retilíneo. Creio que, para o jovem de hoje, é necessário também deixar os medos e as armas para traz de modo a assumir maduramente a vocação.

Como seminarista, trabalhei num encontro de jovens cuja média etária era de 15 à 18, e uma pergunta foi feita numa dinâmica: “o que neste mundo lhe causa medo?”. A expectativa de resposta por parte dos organizadores era algo em torno dos assuntos mais expostos na mídia: assaltos, guerra, narcotráfico e problemas de ordem social. Qual não foi a surpresa dos organizadores ao se depararem com uma resposta de outra ordem e dimensão!

Pareceu unânime: os jovens tinham medos de ordem pessoal! Coisas como não ser bem sucedido, não saber o que fazer, não conseguir seguir uma carreira ou profissão. Tudo isso revelava um medo de ver seus projetos e planos frustrados por um mundo competitivo e desigual na área pessoal.

O resultado me fez refletir o porquê de um jovem daquela faixa etária estar tão amedrontado com as perspectivas de futuro se, teoricamente, tem todas as expectativas à sua frente, com todas as oportunidades e o vigor da própria juventude.

Mas o resultado abriu em mim outra reflexão que me fez entrar nos meus próprios medos! Por aquela época eu estava no terceiro ano de teologia e também tinha dois medos: o medo de ser padre e o medo de não ser padre. Muitas vezes os medos são tão grandes em nós que simplesmente não temos palavras para formulá-los e nem sempre conseguimos pensá-los.

O medo das responsabilidades do sacerdócio, a preocupação em ser fiel àquilo que queria assumir e de dar conta de todas as coisas relativas à vida do sacerdote já no seminário e o peso de ter que ser bom para ser sacerdote causava imenso medo. Mas essa moeda tem dois lados e o outro lado era exatamente o oposto, o medo de não ser padre, afinal eu já tinha dedicado muitos esforços, muito tempo e vários investimentos de muitas ordens. Tudo isso eram medos.

Vi que esses medos eram combatidos com armas que nem sempre eram corretas e até muitas vezes agressivas: vaidade para tentar parecer o melhor, atitudes irresponsáveis para fugir aos estereótipos, questionamentos extremamente críticos que geravam exigências exageradas comigo mesmo e com os outros. Paralisava-me pensar em ser ou não ser padre e passei umas semanas nesse beco sem saída tentando achar armas humanas para superá-lo. Cada vez que buscava armas, os medos aumentavam.

Então, diante de Jesus sacramentado encontrei uma resposta (não por mim, eu mesmo não seria capaz dela, mas uma inspiração): era necessário deixar os medos e as armas! No beco sem saída, a saída era o alto! A lógica era simples: Deus é onisciente, sabe todas as possibilidades: as de eu ser padre, as de eu não ser padre e de ser qualquer outra coisa na vida. Mas esse Deus que é conhecedor de todas as possibilidades é também o Deus que me ama, isto é, não quer meu mal, não quer minha morte. Sendo assim a saída para esse medo era não lutar mais com minhas armas, mas deixar que Deus decidisse por que o que ele fizesse seria bom para mim.

Aqui o abandono em Deus foi a atitude de segurança, porque Ele me chamou, Ele me acompanha e Ele me espera. Foi quando consegui sair do beco do medo e ver a minha história de vida e vi que minha vocação já tinha sido gravada nela e que cada etapa, cada momento costurava com muita delicadeza uma proposta de amor. Neste momento senti-me pisando num chão, seguro e forte, senti-me no chão de minha própria vida e então o meu sim era mais meu que das circunstâncias, mas meu que dos outros, mais meu que dos medos.

Só abandonando os medos e as armas pode-se olhar para o alto e descobrir Deus que sempre fez história na história particular de cada um. Com base nessas experiências pessoais com Deus é possível olhar a vida como o “lugar” onde Deus fala e, pisando com segurança e carinho nesta história de vida por Deus construída, pode-se dizer um sim de amor sincero e seguro, por que é Ele mesmo quem garante, no amor, nossas escolhas. Então a resposta à vocação é acertada e a possibilidade de felicidade é concretizada.

Pe. Fabiano de Carvalho

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Missão


Nota: Escrevi e publiquei este artigo no Jornal Rio Bonito Católico da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição - Rio Bonito/ Centro, no mês de outubro de 2010.
CARVALHO, Fabiano. Vocação, Medos e Armas. Rio Bonito Católico, Rio Bonito, Outubro 2010.





“A Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais. Ela não pode fechar-se frente àqueles que pretendem cobrir a variedade e a complexidade das situações com uma capa de ideologias gastas ou de agressões irresponsáveis. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários.”
(Documento de Aparecida, 11)





Com estas palavras o Documento de Aparecida abre uma visão esclarecedora sobre a idéia de missão na Igreja de modo atualizado, sem perder, contudo, a centralidade do mandato missionário: “Ide pelo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mc 16,15).
Colocar Jesus novamente no centro da missão é uma tarefa importante para toda a Igreja que, ao mesmo tempo em que se torna urgente, figura como um impulso natural do coração que, tendo encontrado a alegria de ser cristão, deseja comunicar a todos esse mesmo dom.
A missão, portanto, enquanto é anúncio de uma experiência pessoal com Jesus Cristo tem como base a comunidade dos crentes, a oração e a eucaristia. Esses aspectos não devem ser de modo algum negligenciados na nossa espiritualidade paroquial. Essa é a abertura necessária frente ao mundo para dialogar ao mesmo tempo em que anuncia o mistério da Salvação em Cristo.
Transformar o anúncio do Evangelho em simples expressão de uma pseudo fraternidade universal descaracterizaria o próprio mandato de Cristo de modo que ocorreria uma cisão entre Reino de Cristo e o próprio Cristo o que acarretaria num empobrecimento do mandato missionário.
Essa dinamicidade do anúncio missionário da verdade de Cristo, sugere o Documento de Aparecida, é incrementada pelo método “ver, julgar e agir”: “Este método implica em contemplar a Deus com os olhos da fé através de sua Palavra revelada e o contato vivificador dos Sacramentos, a fim de que, na vida cotidiana, vejamos a realidade que nos circunda à luz  de sua providência e a julguemos segundo Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e atuemos, a partir da Igreja, Corpo Místico de Cristo e Sacramento universal de salvação, na propagação do Reino de Deus, que semeia nesta terra e frutifica plenamente no Céu.” (Documento de Aparecida, 19)
Sem dúvida alguma, nossa história, mesmo que alguns tentem apagar, está marcada pela influência da Igreja. Neste aspecto, a sociedade em geral é devedora da ação missionária da Igreja. Contudo, esse âmbito histórico não deve nos deixar entorpecido, mas deve nos impulsionar a irmos além e continuar influenciando, contribuindo e corrigindo na sociedade as atitudes humanas.
Nossa missão, deste ponto de vista, se estende para outros âmbitos cuja contribuição moral podemos e devemos oferecer, uma vez que, sendo perita em humanidade, a Igreja deseja defender, como de fato defende, o ser humano em sua integridade, do nascimento à sua morte natural.
Pode-se facilmente perceber que nossa missão não alcança só uma “propaganda” sobre um personagem, mas uma mudança de atitude e uma conversão moral de toda a sociedade, começando pelo individuo.
Diante de todos esses elementos é necessário empreender uma nova reflexão para uma nova atitude missionária de modo a tornar tão efetivo quanto afetivo nosso empenho missionário que leve a bom termo nossos esforços pelo homem e, através dele, pela sociedade. 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Com Maria no Cenáculo Manifestar a Glória de Deus no mundo


Nota: Escrevi e publiquei este artigo no Boletim Informativo da Paróquia de São João Batista em Praça Cruzeiro, no mês de Maio de 2010.
CARVALHO, Fabiano. Com Maria no Cenáculo Manifestar a Glória de Deus no mundo.Católicos em Ação, Rio Bonito, Maio 2010.



Da Anunciação à Pentecostes desenrola-se um mistério poucas vezes percebido, mas muito concreto que é atualizado em nossa vida eclesial e pessoal. Esse é o caminho que liga a Virgem Mãe de Deus e Pentecostes à Igreja e, nela, cada um de nós: entrar neste mistério de amor e celebrar com a Igreja o mês Mariano na perspectiva de Pentecostes em vista da santidade.

Esse mistério que une em um só instante o tempo e a eternidade nos faz contemplar a Glória de Deus que: (1) No Antigo Testamento, quando Deus fez descer sobre a Tenda da Reunião sua sombra, encheu o templo (cf. Ex. 40,34); (2) No Novo Testamento, quando a mesma sombra envolveu a Virgem Maria na Anunciação, a encheu com sua graça (cf. Lc 1, 35b) e em (3) Pentecostes, quando o Espírito fecundou a Igreja, sua esposa reunida no cenáculo, a fez testemunhá-lo ao mundo (Cf. At 2).

Naqueles eventos – aparentemente estanques – o Espírito Santo é o amalgama da vida interior que os une intimamente ao Cristo. Maria, como espelho da Igreja é quem nos traz o exemplo de cristãos e nos ensina a viver no Espírito como Igreja. A mulher que é portadora da promessa para todo novo povo de Deus se deixou fecundar pelo Espírito, do mesmo modo que o antigo povo recebeu o Espírito de Deus. Estende-se uma ligação ininterrupta entre aquele povo que viu a Glória de Deus e a Mulher que dá espaço em sua vida para que a Glória de Deus se encarne e habite em nosso meio.

A Igreja experimenta no Cenáculo aquilo que fora prefigurado na Tenda da Reunião e realizado na Anunciação, deixando-se fecundar pelo Espírito Santo e manifestando ao mundo de maneira inequívoca que nesta Nova Tenda da Reunião, com Maria, está o Cristo vivo: a Glória de Deus no mundo.
O sentido de Pentecostes é perene e atualizado por meio da mediação de Maria que abre espaço em si para que se realize a prefiguração do Êxodo ao mesmo tempo em que convida a Igreja a abrir-se à fecundidade do amor por meio do Espírito Santo gerando Cristo em nós.

Nosso itinerário como cristãos, segue os passos da Igreja: Como Maria, receber o Espírito Santo no Cenáculo e adorar em nós o Deus escondido. Adorá-lo em cada momento de nossa vida (no lar, nas escolas, nas oficinas e escritórios, nas ruas e hospitais)!

Nestas atitudes a Igreja, Nova Tenda da Reunião, se une à Virgem Maria, Serva do Senhor e expressa a Glória de Deus que alcança todos os homens em todos os tempos e lugares.



 

domingo, 21 de março de 2010

São José




São José
Sobre São José o evangelho não guardou muitas palavras. Seu nome aparece somente 17 vezes ao longo do novo testamento (Mt = 9, Mc = 0, Lc = 6 e Jo = 2). Para comparar, o nome "Maria" aparece, no Novo Testamento, 61 vezes aproximadamente e o nome Jesus 1154 vezes.

Não se registram quaisquer palavras suas e tampouco sua historiografia. Contudo, seu exemplo silencioso é muito eloqüente. Desde o princípio da Igreja, os Padres da Igreja puseram em relevo a figura de São José como guarda da Sagrada Família. Assim se expressa Leão XIII na Encíclica Quamquam Pluries "As razões pelas quais o beato José deve ser padroeiro especial da Igreja, e a Igreja se empenha muito à tutela e ao seu patrocínio, nascem principalmente do fato que ele foi esposo de Maria e pai putativo de Jesus Cristo. Daqui vieram todas as suas grandezas, a graça, a santidade e a glória." (Leão XIII, Pp. Quamquam Pluries 10).

Exemplo de vida doméstica, São José foi esposo casto de Maria e Pai putativo de Jesus e, por isso, é chamado Patrono da Igreja, conforme lembra João Paulo II já na introdução da encíclica Redemptoris Custos: "assim também guarda e protege o seu [de Cristo] Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo" (n. 1).

Humilde e sempre pronto, obedeceu aos desígnios de Deus, mesmo quando não os compreendia. Exemplo de amor fiel a Cristo e à Virgem nos convida a imitação das virtudes dos grandes Patriarcas do Antigo Testamento: Amor incondicional a Deus, Empenho voluntário e amoroso com o plano de Deus, Fortaleza diante dos homens para escolher sempre o bem, pureza para saber ouvir e guardar em seu coração a voz de Cristo, humildade no serviço.

Ao educar aquele por quem se fez o céu e a terra, sabendo que Jesus era-lhe submisso e ao custodiar castamente à Virgem Maria, demonstra na sua humildade e zelo puríssimo o modelo de pai de família, ao mesmo tempo em que é modelo de vida consagrada.

São José é de fato nosso pai, uma vez que estamos unidos a Cristo, e é nosso exemplo uma vez que ele mesmo associa-se à fé aceitando unir-se à Virgem Maria no amor pelo "sim" que ela mesma dera ao anjo na anunciação: "Pode dizer-se que aquilo que José fez [a puríssima 'obediência da fé'] o uniu, de uma maneira absolutamente especial, à fé de Maria: ele aceitou como verdade proveniente de Deus o que ela já tinha aceitado na Anunciação" (João Paulo II, Pp. Redemptoris Custos, 4).

O Papa Bento XVI, em 25/07/2009, por ocasião do qüinquagésimo aniversário da proclamação do Patriarca São José como Padroeiro da Igreja Universal, por Pio IX, nos aconselhou à devoção a São José dizendo: "Se considerarmos as hodiernas calamidades que afligem o gênero humano, torna-se mais evidente ainda a oportunidade de intensificar o tal culto [ a São José] e difundí-lo ainda mais entre o povo cristão".

Hoje nós somos convidados a, imitando São José em suas virtudes, chegar ao Cristo que nos chama ao Pai. Assim, seguindo a trajetória de fé que o Patrono traçou com sua vontade forte de amar, devemos nós caminhar com fortaleza, obediência, perseverança e amor puríssimo para chegar às mesmas glórias com que o Pai Adotivo de Jesus foi coroado: O CÉU!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O amor é forte como a morte.


"- Põe-me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre os teus braços; porque o amor é forte como a morte, a paixão é violenta como o sheol. Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina". (Ct 8,6)

 
O amor humano é reflexo inesgotável – embora desfocável – do amor Divino, e é o que leva a duas pessoas a se enamorarem, e enamorados se completarem e se completando viverem numa comunhão de vida. O que é mais forte que o amor?
O livro atribuído a Salomão, que canta o amor à Sulamita, sentencia de um modo que desconserta aos amantes fazendo-os tremer, nas fressuras da alma, com um calafrio que toca, dos meandros do coração até o lume da razão, uma palavra: "o amor é forte como a morte!"
Tal comparação nos seria incompreensível e até mesmo deplorável se só levamos em conta a cultura moderna do prazer e da saciedade hedonista do mundo envolto nas trevas do egoísmo nefando que mata e se mata! Nesta ótica, as palavras do Amado que busca a sua Amada não fazem sentido algum!
Como comparar à morte estes olhares que se entrecruzam como que se comunicando a si mesmos sem sequer necessitar de uma única palavra e que fazem, do peito, brotar batidas que de tão altas são inaudíveis aos seres rebaixados pelo egoísmo orgulhoso da cultura do "eu"?
Na dura realidade da vida, a expressão da morte como força do amor parece não ter sentido nenhum a não ser o do medo do perder, por um corte que dilacera a alma e não faz brotar senão a dor do peito, naqueles que outrora eram força de suporte!
Nestes termos, as leis da morte e da dor imperam como uma densa nuvem no horizonte da vida. E o amor está fadado ao fim por que ou simplesmente se dissipa com o tempo ou é arrancado de nós com a brutalidade de uma força externa inviolável que tudo devasta!
Não há homem que consiga, portanto, fazer uma mulher feliz e nem uma mulher que consiga fazer um homem feliz. Parece que esquecemos o óbvio: seremos eternamente insatisfeitos, por que não haverá o que nos preencha neste mundo! Não, não afirmamos que o sonho de algo que nos preencha por completo seja irreal. O que dizemos é que este sonho não é para este "aqui"!
Seria exigir de mais de alguém a "produção" da felicidade! É um peso que ninguém deve carregar por que a felicidade não é um produto de sentimentos e tampouco resultado de rendimentos financeiros.
Casamentos se extinguem, amizades se esvaem e o amor se esmaece por que se exigem os "direitos da felicidade". Todas as vezes que isso acontece, a impressão que resta no fundo vazio do coração marcado pela dor é que a morte é forte a ponto de matar o amor!
Mas diz aquele que ama: "O Amor é forte como a morte"!
Esta expressão encontrou, no Amor de Cristo pela sua Igreja um novo modo de existir. Um modo real, superior, forte como a morte, por que o Noivo deu a vida pela Noiva e agora, pela mesma força do amor a Noiva, que é a Igreja, é chamada a dar a vida por seu noivo, que é o Cristo.
O Amor é forte como a morte por causa do Cristo que contradisse toda a lógica do egoísmo humano abrindo mão de si mesmo, saindo de si (num movimento oposto ao movimento do egoísmo) e não exigindo do outro o "dever da felicidade", mas esgotando-se até sua ultima gota de vida para que, no Pai, o amor fosse real.
Um amor que é paciente, bondoso e que não sente inveja. Que não é orgulhoso ou arrogante e, acima de tudo, não busca os seus próprios interesses, não se irritando ou guardando rancor. Que tudo desculpa, espera e suporta. (Cf. 1 Cor 13).
Tudo isso é forte como a morte, por que significa, no dia-a-dia das pequenas decisões, celebrar os olhares que se entrecruzam, os corações que palpitam em uníssono e o amor que berra pela vida, mesmo que o egoísmo imperioso de nossos dias tente ofuscar a beleza de um laço que une.
O amor é forte como a morte por que ninguém ama mais do que aquele que dá a vida pelo amado!
De muitos modos e por muitos meios há sempre uma possibilidade de, no rosto resplandecente da esposa que se dá em amor ao seu esposo, e na força do vigor do esposo que fecunda a sua esposa, ver gerar a vida que brota como um simples germe que sintetiza o amor de um e de outro entregue ao sacrifício de vida!
O amor é forte como a morte por que faz da morte uma exaltação ao Pai que, olhando seus filhos que não se fazem donos, mas desprezam o possuir egoísta e fechado gerando uma síntese de amor, faz perdurar até o ultimo minuto de vida um amor que preenche até mesmo os espaços da ausência. O amor é forte como a morte, por que em Cristo o egoísmo é vencido pelo dar-se: expressão suprema do amor e elevado aos píncaros do desprendimento de si gerando – na comunhão dos esposos que é unidade de vida, no bem dos que se amam e nos filhos – a maior força de vida que não se abala com nada!


 

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O TRABALHO HUMANO


Dando continuidade aos artigos para formação sobre a CFE 2010, trazemos uma reflexão pastoral que quer ser mais um "deixar pistas" para uma reflexão que possa atingir uma maturidade. Remarco a limitação do texto por ser um trabalho de limites estreitos, já que são artigos que só podem ocupar uma lauda de modo que possam ser entregues ao final da missa. Está pequena série é mais um subsídio para a possibilidade de uma reflexão madura que uma palavra conclusiva.
O TRABALHO HUMANO,
Nem castigo, nem maldição, mas um alegre dever!

Quem já não disse ou escutou uma dessas frases:
"No meu trabalho, mato um leão por dia!"
"Procuro quem inventou o trabalho para mandar matar!"
"Estou saindo para a guerra!"
"Estou batalhando o pão nosso de cada dia!"
"Se o trabalho fosse bom Deus não teria inventado o descanso!"

Parece muito interessante o modo como o trabalho humano foi corrompido e como aquilo que deveria ser um dom pareceu um castigo! Por causa da visão centrada na economia, o trabalho acabou por tornar-se um mal inevitável. Mas isso não deveria ser assim!
Como o pecado é uma realidade que perverte a bondade e a beleza de todas as coisas, também, ao tocar o trabalho humano e, por conseguinte, a economia, acabou por infectar com o mal essa realidade. Precisamos tirar o trabalho das mãos do demônio e colocá-lo de novo nas mãos de Deus!

O trabalho na Sagrada Escritura

O Genesis – ao falar da criação do mundo – apresenta Deus como um oleiro, artesão que do barro, com seu trabalho, cria o homem. Apresenta também o homem, imagem e semelhança de Deus, como aquele que deve cultivar e guardar a terra (cf. Gn 2,5-6). Está na própria natureza do homem exercer alguma atividade. Basta que percebamos: quando estamos trabalhando não vemos a hora de tirar férias, mas, tão logo nossas férias vão chegando ao meio, não vemos a hora de voltar ao trabalho! É de nossa natureza!
Rápido se percebe que o trabalho não é uma punição, mas um dom que foi corrompido pelo pecado tornando-o penoso (Cf. Gn 3,6-8). A "terra árida" é conseqüência da ruptura da harmonia com Deus, a fadiga e a pena são testemunhas de que não entender tudo como um dom que deve ser cultivado é a conseqüência daquela ruptura e a única atitude de quem se sabe criatura e não criador é louvar a Deus no exercício do trabalho.
Jesus é testemunha de que somos trabalhadores por natureza. "Ele mesmo 'se tornou semelhante a nós em tudo, passando a maior parte dos anos da vida sobre a terra junto de um banco de carpinteiro, dedicando-se ao trabalho manual' na oficina de José (Cf. 13,55; Mc 6,3), a quem estava submisso." (CDSI, 259). Assim são honradas todas as expressões de trabalho por que por ele o homem governa o mundo junto a Deus.

Dignidade do trabalho

Se de um lado, objetivamente falando, trabalhos diferentes têm valores diferentes, por outro, do ponto de vista do trabalhador, da pessoa, por tanto, o agir do homem, enquanto responde ao seu ser tem dignidade igual independente da atividade proposta e do produto alcançado

Trabalho e Economia

Para a manutenção da Economia, tanto na Família quanto no Estado, o processo do trabalho não pode faltar e nem eximir-se de uma moral que corresponda à dignidade do ser humano. Isso se expressa, entre outras coisas, no direito a uma justa remuneração, ao repouso, ao dispor de ambiente que não causem danos à saúde física e nem lesem a integridade moral, a não ver violada a própria consciência e dignidade, direito a pensão bem como auxilio na velhice, direito a assistência referente a maternidade e direito a reunirem-se e associarem-se.

Atitude diante do trabalho

Para vivência de uma espiritualidade do trabalho, precisamos parar de ver o trabalho como uma pena a ser encarada e começar a gostar daquilo que se faz. Toda vez que o econômico/financeiro é colocado na frente do humano, o trabalho se torna penoso. E para uma motivação pessoal para compreendermos o trabalho de outro modo, aqui vão algumas frases para nos lembrarmos e repetirmos com freqüência:

"O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade" (Voltaire)
"O trabalho agradável é o remédio da canseira." (William Shakespeare)
"O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra" (Aristóteles)
"Trabalha em algo, para que o diabo te encontre sempre ocupado" (São Jerônimo)
"Quando o querer é completo, o trabalho se torna um lazer" (Santo Agostinho)
Diác. Fabiano de Carvalho


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

POR QUE NOS PREOCUPAMOS COM A ECONOMIA


Na esteira da CFE 2010, para a formação paroquial, escrevi este pequeno texto que desejo agora partilhar com todos vocês. Espero que, apesar de lacônico, seja de ajuda para refletir sobre o verdadeiro sentido da Economia na família proposto pela Doutrina Social da Igreja.

A Igreja, enquanto é mãe e mestra, tem uma palavra a Dar sobre todas as relações que envolvem o homem exatamente por ser perita em humanidade e se interessar pelo que diz respeito ao ser humano. Em matéria de economia, uma vez que, via de regra, sua teoria transcende seu próprio campo, a Igreja vê-se respaldada em apontar caminhos para que nunca a economia seja superior ao homem, mas esteja a serviço dele.

Economia a serviço da Família

A família ocupa preocupação central na reflexão da Igreja por ser o núcleo de formação e ambiente perfeito para a pessoa humana e seu desenvolvimento natural. "A importância e a centralidade da família, em vista da pessoa e da sociedade é repetidamente sublinhada na Sagrada Escritura" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja - CDSI, n. 209).

Como a economia nasceu na vida doméstica, a família é a "protagonista essencial da vida econômica, orientada não pela lógica de mercado, mas segundo a lógica da partilha e da solidariedade entre as gerações" (CDSI 248). Se a família necessita de meios de subsistência o trabalho é essencial a medida que possibilita a realização plena de suas finalidades. Daí a tragédia social que o desemprego causa.

São necessários, portanto, além de um trabalho digno, um salário que seja condizente com a família e a segurança de poder realizar uma poupança que favoreça a aquisição de certa propriedade (cf. CDSI, 251).
Uma atenção especial deve ser reservada ao trabalho feminino com remuneração equânime, sem tolher os esposos de sua mútua companhia e sem subtrair deles o papel primordial e inalienável da geração e educação dos filhos e do cuidado amoroso dos filhos.

Também o direito à manutenção na velhice deve ser assegurada à família por meio de digna assistência social e humano e atencioso tratamento quer no que tange o âmbito da saúde quer no sadio e justo lazer à que têm direito.

Concluindo

A família deve ver garantidos os meios para sua subsistência segura e moral de modo que sendo ela o eixo da vida social não passe por privações essenciais e vejam assegurados os direitos mais básicos do ser humano a fim de manter a vida em todas as suas etapas.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um Olhar para Jó


Esse texto escrevi em um ensaio de homilia baseado no livro de Jó.
Nossas almas escutaram a extenuação de um homem. Diante do non-sense de uma resposta absurda aos seus dramas mais interiores e no vórtice da incompreensão humana, o Senhor vem ao encontro de Jó e lhe apresenta o Vértice de tudo quanto lhe obscurece a alma: uma curva, um silêncio, uma lágrima!
Tendo sido tocado à alma por um gládio, sente no centro da vida a dimensão mais humana de sua humanidade e o gáudio mais divino da graça que o faz contemplar, obscuro, um dia novo...
Certamente chegará o dia em que a última espada brandida nas contendas da vida se quebrará, e que a última lágrima será derramada. Dia onde se contradirá com alegria a dor e a tristeza e com a segurança o medo. Mas esse dia não é hoje!
Hoje, nós ficamos e lutamos!
Porque talvez não tivéssemos entendido a violência da verdade e o quanto de força há na suavidade se Deus não tivesse nos levado ao chão da humilhação e nos mostrado que os metais mais preciosos são provados nos fornos de temperatura mais elevada de Amor.
Talvez nosso coração não tivesse se ferido tanto se tivéssemos escolhido ficar no mesmo lugar, mas também nunca teriamos visto o Sol de Amor iluminar a beleza da criação diária de Deus em nós.
Se tivéssemos tampado os ouvidos à voz que nos chama, sofreríamos menos, mas também amaríamos menos e não seriamos felizes.
"Há que se resignar a caminhar no deserto, no frio e na noite, guiado apenas por uma misteriosa estrela, mas a chega é certa!" (Me. Marie Helena Cavalcanti)

 
Fabiano de Carvalho Silva

 

sábado, 20 de fevereiro de 2010

“Cristo para vós esperança de glória”

No Carnaval estive no Retiro do Circuito Católico de Rio Bonito, RJ. Um retiro com em média 180 pessoas que ocorreu na casa de formação da paróquia. Meditamos sobre a Carta aos Colossenses (1,24-29). A palestra foi gravada em áudio e gostaria de partilhar com todos os amigos. Um momento para meditar: Jesus não é uma foto a ser admirada, não é somente causa exemplar, mas ele faz a santificação em nossa vida, ele é causa eficiente em nós!




sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Confissão


Confissão
No dia da confissão é um problema! São muitas as preocupações e que nada têm a ver com a confissão sacramental. E toda quaresma é a mesma coisa... Então precisamos virar a página desse problema para chegarmos à página de uma boa confissão que ponha o coração penitente diante da misericórdia divina para podermos viver o "Sacramento da Amizade".


O que é pecado


Perdemos o pecado de vista e esse é o grande problema no sacramento da confissão. Se perguntássemos o que é pecado, as resposta viriam de diversos modos, mas ao perguntarmos quais são os seus pecados, logo surge um constrangimento e uma imprecisão. Então para falar da penitência precisamos saber que o pecado é um mal feito contra mim mesmo, contra as coisas, contra meu próximo e só assim atinge a Deus rompendo a amizade com Ele e, ao mesmo tempo, atentado contra a Igreja, povo que está em comunhão com Deus.
Ao contrário do que se pensa, pecado não é "tudo igual". Embora todo ato mal seja por si mesmo pecado, nem todos eles têm o mesmo peso e/ou são atribuíveis à pessoa que comete. Assim para uma boa confissão é bom ter em mente a seguinte dica:

  • Pecado venial não é o pecadinho comum de todos os dias, afinal, alguém pode pecar mortalmente todos os dias e se acostumar com isso;

  • Pecado mortal é o pecado que tem matéria
    grave
    : que viola os mandamentos; pleno conhecimento: saber que aquele determinado ato opõe-se aos mandamentos e plena liberdade, isto é, consentir no ato por vontade própria, como escolha pessoal e livre de coação;

  • No pecado venial houve a ausência de um ou mais dos elementos do item "b";

  • NOTE BEM: A ninguém é permitido agir contra a própria consciência, isto significa dizer que, se você achou sinceramente que um ato era pecaminoso, mesmo que ele não o seja, esse ato deve ser confessado. Contudo, deve-se ter cuidado com os escrúpulos (achar que tudo é pecado) e formar bem a consciência por meio do estudo e da oração.

  • Os pecados mortais só são perdoados pela absolvição sacramental enquanto os pecados veniais o são por um ato sincero de arrependimento como o ato penitencial da missa, por exemplo. NÃO ESQUEÇA: a Igreja recomenda vivamente que sejam confessados os pecados veniais, por que o acumulo deles debilita a vontade e conduz ao pecado mortal.
Exame de Consciência


Para uma boa confissão é necessário um bom exame de consciência. Frases como "eu não tenho pecado!" ou "Padre eu só não matei e nem roubei o resto eu fiz tudo!" indicam a ausência de um bom exame de consciência. Diante dessas frases não há como celebrar o sacramento, por que ele requer exatamente a acusação dos próprios pecados segundo a matéria (como dissemos acima no item 1 letra b).

Depois de considerar, no exame de consciência, os nossos atos e distingui-los entre bons e maus o segundo passo é saber se os maus são pecados mortais ou veniais, seguindo as indicações acima.
O próximo passo é bem simples e podemos seguir um pequeno roteiro:


  • As circunstancias que o rodeiam: que são os diversos fatores ou modificações que afetam o ato.

    • Quem pratica a ação. Por exemplo, os atos praticados por uma criança são menos graves que os praticados por um adulto;

    • Que coisa (a qualidade do objeto). Roubar uma bala é menos grave que roubar um banco;

    • Onde (o lugar em que a ação se realiza). Xingar na Igreja é mais grave que na rua;

    • Com que meios se realizou a ação. Num assalto é mais grave uma arma de fogo que uma arma branca;

    • O modo como se realizou o ato. Um ato público é sempre mais grave que um ato privado;

    • Quando se praticou o ato: Roubar no domingo é mais grave que em outros dias da semana

OBS. Dizer que é mais grave que não exclui a gravidade de um e outro ato. Muitas vezes ambos são pecados, sendo que agravados por estas circunstâncias. Se o pecado foi cometido em presença ou com a colaboração de outro, deve também ser levado em consideração no exame de consciência.

Como dissemos, a matéria do pecado é precisada pelos mandamentos, por isso é sempre bom ter em mente os Dez Mandamentos para um bom exame de consciência.
NOTE BEM: A finalidade é a intenção de quem age, e pode coincidir ou não com o objeto da ação. Assim, se o fim é bom, junta ao ato bom, nova bondade; se o fim é mau, vicia por completo a bondade de um ato; quando o ato é em si mesmo indiferente, o fim o transforma em bom ou mau; se ao fim é mau junta nova malícia ao ato mau em si; o fim bom de quem atua nunca converterá em boa uma ação má em si mesma.


A confissão


Iniciar a confissão dizendo há quanto tempo não se confessa é bom, em todo caso não é uma regra, você pode não se lembrar disso. Diga ao menos aproximadamente, mas se fizer mais de um ano desde a sua ultima confissão é necessário também confessar, já que o Mandamento da Igreja pede que nos confessemos ao menos uma vez ao ano por ocasião da Páscoa.

Uma boa confissão não é uma confissão demorada, mas uma confissão objetiva, então, os pecados devem ser colocados de modo breve e completo: matéria, números de vezes cometidos, circunstâncias e finalidade. O mais importante para a confissão é o sincero arrependimento dos pecados cometidos (ou ao menos o incomodo por ter rompido a amizade com Deus), o desejo de não tornar a cometer tal ato e a vontade de corrigir o erro enquanto for possível.

Lembre-se, você não vai confessar os pecados dos outros, mas somente os seus. Frases como "mas minha filha fez isso...", "mas foi por que aquilo..." são justificativas e não um arrependimento sincero requerido pelo sacramento.

O aconselhamento faz parte do sacramento da penitência, contudo, a confissão não é uma direção espiritual ou aconselhamento psicológico onde é necessário colocar detalhes mínimos e narrações pormenorizadas. Se você sente a necessidade de uma direção espiritual, procure agendar em horário oportuno.

Na confissão não se deve esconder ou omitir deliberadamente pecados graves, isso invalida a confissão! Mas se você esqueceu sinceramente um pecado, não se preocupe, você não teve culpa e este pecado lhe foi perdoado! Se por algum acaso você não cumpriu alguma penitência de uma confissão anterior, diga ao sacerdote e ele comutará a penitência nesta nova confissão.



Os efeitos do Sacramento da Penitência




O Sacramento da Penitência é a celebração da Misericórdia e o restabelecimento da amizade com Deus. É sempre uma iniciativa de Deus e uma resposta do homem que percebe ter se afastado de Deus. Por isso, "toda a força da penitencia reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus e nos unir a Ele com máxima amizade" (Cf. CaIC 1468).
Desta forma a reconciliação no tempo quaresmal se apresenta como um novo convite a restaurar a amizade entre Deus e o homem por meio de sua comunidade, a Igreja que junta clama o perdão de Deus ao mesmo tempo em que reconhece, pelo louvor, a grandeza daquele que pode perdoar nossas faltas gerando uma verdadeira ressurreição espiritual e a restauração da comunhão fraterna, fortalecendo a participação dos bens espirituais de todos os Amigos de Cristo.

A brasa ardente que move um coração vocacionado ao sacerdócio é a oração!


Desejo trazer um texto que escrevi para o Blog do Deus Proverá do Seminário São José de Niterói em Julho de 2008 e que sempre gosto de voltar a ele para meditar.

 


Talvez pudéssemos olhar a vida pulsante de uma comunidade religiosa a partir de uma perspectiva central: a vida de Oração! A qualidade da oração numa comunidade é o motor do ânimo vocacional de cada seminarista. Naqueles momentos onde a alma encontra com Aquele a quem almeja, o tempo passa do relógio para a eternidade sem que se sinta essa transição, mas percebe-se profundamente que algo já não é mais o mesmo.

Todas as coisas em volta têm sua coloração esmaecida quando o coração de um seminarista se põe verdadeiramente diante de seu Deus. Parece que a entrega consagrada de sua vida misteriosamente foi antecipada e que seu coração arde de amor e zelo, mesmo que seu corpo já não responda com atenção àqueles momentos que se passam diante do grande amor de Deus.
Um mistério único que preenche, do nascer ao pôr-do-sol, a alma que, desejosa de se consagrar totalmente, encontra na oração um modo de pertença intima e completa que embora se encerre no tempo alcança o coração de Deus pelas mãos da Virgem Maria.

Em coro, as vozes uníssonas se unem à Igreja que reza sem cessar e no silêncio, o coração arde de amor secretamente. E mesmo que todos os defeitos de sua alma lhe sejam mostrados pela misericórdia providente do Altíssimo, tem seus olhos inundados pelas lágrimas suplicantes que esperam atentamente que Deus lhe venha ao auxilio para lhe ensinar novos caminhos para Ele.
E mesmo quando custa muito rezar, o coração consegue erguer-se com humildade e dizer: "mas mesmo assim eu estou aqui e te amo!" e pedindo que o Senhor socorra, descansa em seus braços sentindo-se seguro.

Em cada momento onde o amor é forte a ponto de deixar as marcas da cruz impressas no espírito, a oração traz uma alegria no olhar e uma luz na alma que produzem uma certeza que brota no coração: "Cristo me chamou, Cristo está comigo e Cristo me espera"!

E ali, cansado e abatido, pões sua alma de guarda e vigia esperando a hora em que o seu Senhor irá chegar para separá-lo de uma vez por todas e serão finalmente um!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

“Ascendat ad Te...”

"Ascendat ad Te..."

A expressão que dá nome a nosso blog vem da Forma Extraordinária do Rito Latino. A oração se refere ao momento quando o sacerdote incensa as oblatas e literalmente diz: "Incensum istud, a te benedictum, ascendat ad te, Domine: et descendat super nos misericordia tua." (Que este incenso, por Vós abençoado, se eleve até Vós, Senhor, e sobre nós desça a vossa misericórdia).

O incenso é a oferta mais pura do Antigo Testamento. No rito Católico significa as preces que sobem a Deus por meio do sacerdote. Um culto perfeito, um culto de louvor, um culto prestado nas ações cotidianas que se completam na pureza da intenção e na misericórdia de Deus que acolhe o homem.

Atendendo ao pedido do Papa Bento XVI na MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 44º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS, iniciamos este blog no escopo de fazer subir ao céu as atividades virtuais para que seja também a internet um "ambiente" de louvor perfeito a Deus.

Diác. Fabiano de Carvalho Silva