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domingo, 21 de março de 2010

São José




São José
Sobre São José o evangelho não guardou muitas palavras. Seu nome aparece somente 17 vezes ao longo do novo testamento (Mt = 9, Mc = 0, Lc = 6 e Jo = 2). Para comparar, o nome "Maria" aparece, no Novo Testamento, 61 vezes aproximadamente e o nome Jesus 1154 vezes.

Não se registram quaisquer palavras suas e tampouco sua historiografia. Contudo, seu exemplo silencioso é muito eloqüente. Desde o princípio da Igreja, os Padres da Igreja puseram em relevo a figura de São José como guarda da Sagrada Família. Assim se expressa Leão XIII na Encíclica Quamquam Pluries "As razões pelas quais o beato José deve ser padroeiro especial da Igreja, e a Igreja se empenha muito à tutela e ao seu patrocínio, nascem principalmente do fato que ele foi esposo de Maria e pai putativo de Jesus Cristo. Daqui vieram todas as suas grandezas, a graça, a santidade e a glória." (Leão XIII, Pp. Quamquam Pluries 10).

Exemplo de vida doméstica, São José foi esposo casto de Maria e Pai putativo de Jesus e, por isso, é chamado Patrono da Igreja, conforme lembra João Paulo II já na introdução da encíclica Redemptoris Custos: "assim também guarda e protege o seu [de Cristo] Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo" (n. 1).

Humilde e sempre pronto, obedeceu aos desígnios de Deus, mesmo quando não os compreendia. Exemplo de amor fiel a Cristo e à Virgem nos convida a imitação das virtudes dos grandes Patriarcas do Antigo Testamento: Amor incondicional a Deus, Empenho voluntário e amoroso com o plano de Deus, Fortaleza diante dos homens para escolher sempre o bem, pureza para saber ouvir e guardar em seu coração a voz de Cristo, humildade no serviço.

Ao educar aquele por quem se fez o céu e a terra, sabendo que Jesus era-lhe submisso e ao custodiar castamente à Virgem Maria, demonstra na sua humildade e zelo puríssimo o modelo de pai de família, ao mesmo tempo em que é modelo de vida consagrada.

São José é de fato nosso pai, uma vez que estamos unidos a Cristo, e é nosso exemplo uma vez que ele mesmo associa-se à fé aceitando unir-se à Virgem Maria no amor pelo "sim" que ela mesma dera ao anjo na anunciação: "Pode dizer-se que aquilo que José fez [a puríssima 'obediência da fé'] o uniu, de uma maneira absolutamente especial, à fé de Maria: ele aceitou como verdade proveniente de Deus o que ela já tinha aceitado na Anunciação" (João Paulo II, Pp. Redemptoris Custos, 4).

O Papa Bento XVI, em 25/07/2009, por ocasião do qüinquagésimo aniversário da proclamação do Patriarca São José como Padroeiro da Igreja Universal, por Pio IX, nos aconselhou à devoção a São José dizendo: "Se considerarmos as hodiernas calamidades que afligem o gênero humano, torna-se mais evidente ainda a oportunidade de intensificar o tal culto [ a São José] e difundí-lo ainda mais entre o povo cristão".

Hoje nós somos convidados a, imitando São José em suas virtudes, chegar ao Cristo que nos chama ao Pai. Assim, seguindo a trajetória de fé que o Patrono traçou com sua vontade forte de amar, devemos nós caminhar com fortaleza, obediência, perseverança e amor puríssimo para chegar às mesmas glórias com que o Pai Adotivo de Jesus foi coroado: O CÉU!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O amor é forte como a morte.


"- Põe-me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre os teus braços; porque o amor é forte como a morte, a paixão é violenta como o sheol. Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina". (Ct 8,6)

 
O amor humano é reflexo inesgotável – embora desfocável – do amor Divino, e é o que leva a duas pessoas a se enamorarem, e enamorados se completarem e se completando viverem numa comunhão de vida. O que é mais forte que o amor?
O livro atribuído a Salomão, que canta o amor à Sulamita, sentencia de um modo que desconserta aos amantes fazendo-os tremer, nas fressuras da alma, com um calafrio que toca, dos meandros do coração até o lume da razão, uma palavra: "o amor é forte como a morte!"
Tal comparação nos seria incompreensível e até mesmo deplorável se só levamos em conta a cultura moderna do prazer e da saciedade hedonista do mundo envolto nas trevas do egoísmo nefando que mata e se mata! Nesta ótica, as palavras do Amado que busca a sua Amada não fazem sentido algum!
Como comparar à morte estes olhares que se entrecruzam como que se comunicando a si mesmos sem sequer necessitar de uma única palavra e que fazem, do peito, brotar batidas que de tão altas são inaudíveis aos seres rebaixados pelo egoísmo orgulhoso da cultura do "eu"?
Na dura realidade da vida, a expressão da morte como força do amor parece não ter sentido nenhum a não ser o do medo do perder, por um corte que dilacera a alma e não faz brotar senão a dor do peito, naqueles que outrora eram força de suporte!
Nestes termos, as leis da morte e da dor imperam como uma densa nuvem no horizonte da vida. E o amor está fadado ao fim por que ou simplesmente se dissipa com o tempo ou é arrancado de nós com a brutalidade de uma força externa inviolável que tudo devasta!
Não há homem que consiga, portanto, fazer uma mulher feliz e nem uma mulher que consiga fazer um homem feliz. Parece que esquecemos o óbvio: seremos eternamente insatisfeitos, por que não haverá o que nos preencha neste mundo! Não, não afirmamos que o sonho de algo que nos preencha por completo seja irreal. O que dizemos é que este sonho não é para este "aqui"!
Seria exigir de mais de alguém a "produção" da felicidade! É um peso que ninguém deve carregar por que a felicidade não é um produto de sentimentos e tampouco resultado de rendimentos financeiros.
Casamentos se extinguem, amizades se esvaem e o amor se esmaece por que se exigem os "direitos da felicidade". Todas as vezes que isso acontece, a impressão que resta no fundo vazio do coração marcado pela dor é que a morte é forte a ponto de matar o amor!
Mas diz aquele que ama: "O Amor é forte como a morte"!
Esta expressão encontrou, no Amor de Cristo pela sua Igreja um novo modo de existir. Um modo real, superior, forte como a morte, por que o Noivo deu a vida pela Noiva e agora, pela mesma força do amor a Noiva, que é a Igreja, é chamada a dar a vida por seu noivo, que é o Cristo.
O Amor é forte como a morte por causa do Cristo que contradisse toda a lógica do egoísmo humano abrindo mão de si mesmo, saindo de si (num movimento oposto ao movimento do egoísmo) e não exigindo do outro o "dever da felicidade", mas esgotando-se até sua ultima gota de vida para que, no Pai, o amor fosse real.
Um amor que é paciente, bondoso e que não sente inveja. Que não é orgulhoso ou arrogante e, acima de tudo, não busca os seus próprios interesses, não se irritando ou guardando rancor. Que tudo desculpa, espera e suporta. (Cf. 1 Cor 13).
Tudo isso é forte como a morte, por que significa, no dia-a-dia das pequenas decisões, celebrar os olhares que se entrecruzam, os corações que palpitam em uníssono e o amor que berra pela vida, mesmo que o egoísmo imperioso de nossos dias tente ofuscar a beleza de um laço que une.
O amor é forte como a morte por que ninguém ama mais do que aquele que dá a vida pelo amado!
De muitos modos e por muitos meios há sempre uma possibilidade de, no rosto resplandecente da esposa que se dá em amor ao seu esposo, e na força do vigor do esposo que fecunda a sua esposa, ver gerar a vida que brota como um simples germe que sintetiza o amor de um e de outro entregue ao sacrifício de vida!
O amor é forte como a morte por que faz da morte uma exaltação ao Pai que, olhando seus filhos que não se fazem donos, mas desprezam o possuir egoísta e fechado gerando uma síntese de amor, faz perdurar até o ultimo minuto de vida um amor que preenche até mesmo os espaços da ausência. O amor é forte como a morte, por que em Cristo o egoísmo é vencido pelo dar-se: expressão suprema do amor e elevado aos píncaros do desprendimento de si gerando – na comunhão dos esposos que é unidade de vida, no bem dos que se amam e nos filhos – a maior força de vida que não se abala com nada!