Páginas

sexta-feira, 5 de março de 2010

O amor é forte como a morte.


"- Põe-me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre os teus braços; porque o amor é forte como a morte, a paixão é violenta como o sheol. Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina". (Ct 8,6)

 
O amor humano é reflexo inesgotável – embora desfocável – do amor Divino, e é o que leva a duas pessoas a se enamorarem, e enamorados se completarem e se completando viverem numa comunhão de vida. O que é mais forte que o amor?
O livro atribuído a Salomão, que canta o amor à Sulamita, sentencia de um modo que desconserta aos amantes fazendo-os tremer, nas fressuras da alma, com um calafrio que toca, dos meandros do coração até o lume da razão, uma palavra: "o amor é forte como a morte!"
Tal comparação nos seria incompreensível e até mesmo deplorável se só levamos em conta a cultura moderna do prazer e da saciedade hedonista do mundo envolto nas trevas do egoísmo nefando que mata e se mata! Nesta ótica, as palavras do Amado que busca a sua Amada não fazem sentido algum!
Como comparar à morte estes olhares que se entrecruzam como que se comunicando a si mesmos sem sequer necessitar de uma única palavra e que fazem, do peito, brotar batidas que de tão altas são inaudíveis aos seres rebaixados pelo egoísmo orgulhoso da cultura do "eu"?
Na dura realidade da vida, a expressão da morte como força do amor parece não ter sentido nenhum a não ser o do medo do perder, por um corte que dilacera a alma e não faz brotar senão a dor do peito, naqueles que outrora eram força de suporte!
Nestes termos, as leis da morte e da dor imperam como uma densa nuvem no horizonte da vida. E o amor está fadado ao fim por que ou simplesmente se dissipa com o tempo ou é arrancado de nós com a brutalidade de uma força externa inviolável que tudo devasta!
Não há homem que consiga, portanto, fazer uma mulher feliz e nem uma mulher que consiga fazer um homem feliz. Parece que esquecemos o óbvio: seremos eternamente insatisfeitos, por que não haverá o que nos preencha neste mundo! Não, não afirmamos que o sonho de algo que nos preencha por completo seja irreal. O que dizemos é que este sonho não é para este "aqui"!
Seria exigir de mais de alguém a "produção" da felicidade! É um peso que ninguém deve carregar por que a felicidade não é um produto de sentimentos e tampouco resultado de rendimentos financeiros.
Casamentos se extinguem, amizades se esvaem e o amor se esmaece por que se exigem os "direitos da felicidade". Todas as vezes que isso acontece, a impressão que resta no fundo vazio do coração marcado pela dor é que a morte é forte a ponto de matar o amor!
Mas diz aquele que ama: "O Amor é forte como a morte"!
Esta expressão encontrou, no Amor de Cristo pela sua Igreja um novo modo de existir. Um modo real, superior, forte como a morte, por que o Noivo deu a vida pela Noiva e agora, pela mesma força do amor a Noiva, que é a Igreja, é chamada a dar a vida por seu noivo, que é o Cristo.
O Amor é forte como a morte por causa do Cristo que contradisse toda a lógica do egoísmo humano abrindo mão de si mesmo, saindo de si (num movimento oposto ao movimento do egoísmo) e não exigindo do outro o "dever da felicidade", mas esgotando-se até sua ultima gota de vida para que, no Pai, o amor fosse real.
Um amor que é paciente, bondoso e que não sente inveja. Que não é orgulhoso ou arrogante e, acima de tudo, não busca os seus próprios interesses, não se irritando ou guardando rancor. Que tudo desculpa, espera e suporta. (Cf. 1 Cor 13).
Tudo isso é forte como a morte, por que significa, no dia-a-dia das pequenas decisões, celebrar os olhares que se entrecruzam, os corações que palpitam em uníssono e o amor que berra pela vida, mesmo que o egoísmo imperioso de nossos dias tente ofuscar a beleza de um laço que une.
O amor é forte como a morte por que ninguém ama mais do que aquele que dá a vida pelo amado!
De muitos modos e por muitos meios há sempre uma possibilidade de, no rosto resplandecente da esposa que se dá em amor ao seu esposo, e na força do vigor do esposo que fecunda a sua esposa, ver gerar a vida que brota como um simples germe que sintetiza o amor de um e de outro entregue ao sacrifício de vida!
O amor é forte como a morte por que faz da morte uma exaltação ao Pai que, olhando seus filhos que não se fazem donos, mas desprezam o possuir egoísta e fechado gerando uma síntese de amor, faz perdurar até o ultimo minuto de vida um amor que preenche até mesmo os espaços da ausência. O amor é forte como a morte, por que em Cristo o egoísmo é vencido pelo dar-se: expressão suprema do amor e elevado aos píncaros do desprendimento de si gerando – na comunhão dos esposos que é unidade de vida, no bem dos que se amam e nos filhos – a maior força de vida que não se abala com nada!


 

3 comentários:

  1. Quanta sapiência, quanta luz.

    Meus parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Lindo, Diácono!!

    Mas, diz uma ciosa... o que é Ascendat ad te??

    ResponderExcluir
  3. Estimado amigo,
    Agradeço o vosso comentário e espero que possas continuar lendo nosso blog que tenta ser uma resposta ao pedido do Papa Bento XVI. A respeito do nome de nosso blog, escrevi no primeiro post o que significa o nome, que pode ser lido em http://ascendat.blogspot.com/2010/02/ascendat-ad-te.html. Que Jesus o abençoe!

    ResponderExcluir