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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A LITURGIA CRISTÃ AJOELHA-SE DIANTE DO SENHOR CRUCIFICADO E ELEVADO!


Deparo-me agora com um artigo[1] publicado pelo Niterói Católico, órgão oficial de informação da Arquidiocese de Niterói/RJ, que parece não corresponder exatamente àquilo que é a orientação da Igreja.
Sob o título “Ajoelhar-se ou ficar de pé? Eis a questão”, encontra-se uma enxurrada de informações que carece de algum aprofundamento e, não menos de fundamentação. Para nos colocar à par do conteúdo do texto, passamos a um rápido resumo:
O centro do debate é a posição da assembleia durante a Anáfora: se deve permanecer de pé ou ajoelhada, como é costume em nossas celebrações. Necessitamos de clareza inicial sobre o status quo do debate que o autor deseja trazer à peito. Analisemos:
“O ajoelhar-se durante a prece Eucarística, é um dos temas que tem gerado muitas discussões. Pode-se dizer que isso é reflexo de mais de mil anos de uma fé devocionista que nos distanciou da prática ritual-celebrativa da Igreja primitiva. E Hoje após quase cinquenta anos do Concílio Ecumênico Vaticano II, que propôs a volta às fontes, colhemos os resquícios desse período”.

Podemos perguntar o que é reflexo de mais de mil anos de uma fé devocionista: as muitas discussões ou o ajoelhar-se durante a prece eucarística? Se o problema é o desenvolvimento do debate litúrgico, devemos tomar um viés para análise do tema, mas se é o gesto de ajoelhar-se, em si, cabe outro tipo de reflexão. Vamos tentar responder a ambos os pontos.
Um renomado teólogo, ao nos introduzir no espírito da liturgia, dedica sete páginas de sua obra somente sobre esse assunto. É claro que facilmente poder-se-ia refutar o argumento com base no fato de o autor não ser latino-americano e, por isso, não entender a “inculturação” da liturgia no Brasil. Contudo, não obstante à nacionalidade germânica, não devemos deixar de estar atentos à palavra de Joseph Ratzinger[2] em seu livro “Introdução ao espírito da liturgia” [3].
Analisando a “história do gesto de ajoelhar”, passa em revista a recusa dos Romanos e Gregos, sob o argumento de que “ajoelhar-se não seria digno do homem livre nem condiria com a cultura grega, sendo assunto de bárbaros” [4] e dá voz à negativa de Agostinho de ajoelhar-se diante de falsos deuses.
Explica o autor: “Olhando a história podemos constatar que tanto os Gregos como os Romanos rejeitavam a posição de joelhos. Perante os deuses parciais e desunidos... tal comportamento tinha plena justificação: para estes povos, era por demais evidente que esses deuses não eram Deus, mesmo dependendo do seu poder caprichoso e tendo sido obrigados a assegurar-se, quando possível de sua benevolência (...) Agostinho dá-lhe [à Aristóteles], de certo modo, razão: as divindades falsas seriam apenas máscaras de demônios, que sujeitam o Homem à adoração do dinheiro e ao egocentrismo, tornando-o deste modo, servil e supersticioso” [5].
Remarca ainda que o gesto de ajoelhar-se se origina na própria Sagrada Escritura, já que a palavra proskynein[6] aparece 59 só no Novo Testamento. Ajoelhar-se, segundo Ratzinger, tem para o Antigo Testamento, o sentido de rebaixar as forças diante de Deus como forma de reconhecimento de seu poder que origina tudo o que temos[7], uma forma clara de adoração.
Nos Atos dos Apóstolos, falam-se da oração de São Pedro (9,40), de São Paulo (20,36) e de toda a comunidade Cristã (21,5) em posição de joelhos.
Fica provado assim que o argumento de que os primeiros cristãos partiam o pão, nas casas (domus ecclesia), celebravam nas catacumbas, se reuniam ao redor da mesa e que, por não haver bancos ou genuflexórios nestes lugares, todos ficavam de pé, ao redor do centro, do altar, resulta em inválido, por não corresponder aos referentes bíblicos.
Se o argumento fosse válido, a fortiori ratione, deveríamos ter que retirar o altar, os bancos, o sacrário, os retábulos, o ambão e outras coisas... E para reduzir ao absurdo, creio que se devemos propor uma volta naqueles termos, por que não usarmos o mesmo estilo de roupas que os primeiros cristãos?
Se a palavra do teólogo Joseph Ratzinger não nos servir de posição abalizada, ao menos nos sirvam as palavras da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis[8] de Sua Santidade Bento XVI. O documento agora mencionado trata, no número 65 da reverência à Eucaristia e assim se expressa:

Penso, em geral, na importância dos gestos e posições, como, por exemplo, ajoelhar-se durante os momentos salientes da Oração Eucarística. Embora adaptando-se à legítima variedade de sinais que tem lugar no contexto das diferentes culturas, cada um viva e exprima a consciência de encontrar-se, em cada celebração, diante da majestade infinita de Deus, que chega até nós humildemente nos sinais sacramentais.”[9]

Quais mais palavras deveriam ser ditas para indicar a importância do ajoelhar na Consagração durante a Oração Eucarística. Se houve algum questionamento no pensamento do autor do artigo quanto a melhor atitude de exprimir o que celebramos, os documentos recentes da Igreja o dirimem logo nas primeiras olhadelas.
Outra tensão que não ficou bem clara naquele artigo foi a que existe entre “o Banquete” e “o Sacrifício”. Não raro, esse tema causa alguma dificuldade. Devemos lembrar que a palavra “Católica” significa universal e açambarca o sentido de totalidade de modo que não se pode partir de uma escolha entre uma das partes, mas do todo[10].
Se de um lado é verdade que o banquete da alegria é um aspecto da missa, também é verdade que o sacrifício também o é. Isso nos faz compreender o Apocalipse de São João que nos mostra a liturgia celeste onde, no altar do sacrifício está o Cordeiro imolado e de pé[11]! Entre lágrimas copiosas por não haver quem abrisse o livro da história, João é chamado a alegrar-se porque vencera o Leão de Judá que poderá abrir o livro.
Essa mística penitencial e festiva é expressa no próprio andamento das partes da missa que, no ato penitencial nos convida a reclusão e no Glória nos convida à alegria. Respeitar esses momentos é imprescindível para uma celebração frutuosa da liturgia [12].
Parte desta tensão é também a realidade mística da missa que transcende o tempo. No entanto isso não significaria dizer exatamente que estamos no céu. É óbvio que não estamos no céu, por que se assim fosse não o deixaríamos mais. Vale a pena lembrar a expressão advinda da escatologia que remarca aquela tensão de que faláramos: “já, mas ainda não”.
Diante de tudo isso, vale a pena perguntar: Qual o sentido do ajoelhar-se na celebração Eucarística[13]?
É duplo o significado. Em primeiro lugar o de súplica, pequenez. O homem reconhece sua condição criatural e a condição Divina de Deus. Ajoelha-se diante de Deus como um pequenino que d’Ele tudo deseja e espera receber. Ao mesmo tempo, de adoração por que aquele Deus de quem ele recebe tudo, é também o Deus sumamente bom que “trabalha” muito mais pela salvação do homem que o próprio homem.

Existem algumas coisas que merecem relevo:

1)    Dentre os cânones do Concílio de Nicéia[14] (325), é bem verdade, há a recomendação de que, nos dias do Senhor em Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados. Mas daí a dizer que há uma proibição, não se sustenta. As pessoas não ajoelhavam no domingo por uma questão penitencial (no domingo não se fazia penitência), mas, no segundo milênio a Igreja trouxe de volta o aspecto de adoração e reverência diante da majestade divina que, como vimos, já era usual no ambiente neo-testamentário.
2)    Nós não podemos escolher a postura que devemos tomar na liturgia sob pena de um relativismo litúrgico. As prescrições litúrgicas da Instrução Geral ao Missal Romano dizem:

“A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é sinal da comunidade e da unidade da assembleia, pois exprime e estimula os sentimentos e pensamentos dos participantes” [15]

3)    As dimensões da teologia do múnus sacerdotal, que entre o padre e os demais fiéis é complementar, mas distinto, fica evidenciado uma vez que, na Oração Eucarística, o padre está exercendo seu múnus sacerdotal ministerial enquanto os demais fiéis o fazem mediatizados pelo padre.
4)    A mesma Instrução Geral diz: “Ajoelhem-se durante a Consagração, a não ser que a falta de espaço, ou o grande número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam”[16], não deixando margem nenhuma para uma escolha por parte do fiel (usa o verbo “ajoelhar” no imperativo) e coloca como exceção bem definida o fato de não se ajoelhar.
5)    O fato de não haver uma codificação da genuflexão nas normativas antigas não significa, nós bem o sabemos, que não era prática entre os cristãos. A guisa de exemplo, podemos ver muitas situações em que o uso precedeu à normativa (a Assunção de Maria é um bom exemplo).

Uma ultima palavra:

Nossa intenção, ao responder aquele artigo publicado no Órgão oficial da Arquidiocese de Niterói é simples e reside em dois motivos:
A palavra grega σκοπεύω[17], de onde vem a palavra “Epíscopo”, significa “ver”. Daí ser um dos ofícios do padre, como colaborador do Bispo, ajuda-lo a ver aquilo que pode levar à comunidade ao erro.
Depois, uma grande parte de nossos leigos tem acesso ao Niterói Católico e, por ser um órgão oficial, deve ser sempre teologicamente revisado e não pode conter, de modo algum, quaisquer imprecisões que causem confusão às pessoas que são sinceras, mas desavisadamente leem os artigos lá constantes.
Ainda é necessário ressaltar que devemos sempre zelar pela reta doutrina e disciplina e que reflexões que sejam dissonantes do que nos ensinam os livros litúrgicos e os documentos magisteriais devem ser evitados, como nós mesmos afirmamos quando fazemos nossa profissão de fé, que por ocasião da Sagrada Ordenação, que no ato da posse canônica.

Visamos esclarecer as imprecisões relativas ao gesto reverente de genufletir bem como o debate sobre seu uso. Percorremos a sadia teologia de Ratzinger e o magistério da Igreja, principalmente as expressões da Instrução Geral ao Missal Romano, e a tradição para chegarmos a conclusão de que é legitimo e obrigatório ajoelhar-se durante a Anáfora não só por respeito às rubricas contidas nos livros litúrgicos, mas, sobretudo, por reverente reconhecimento de nossa pequenez e adoração diante de Deus.



[1] Fróes, Pe. Marcelo. “Ajoelhar-se ou ficar de Pé? Eis, a questão!” in Niterói Católico, outubro de 2011. Ano 48, n. 548, p. 9.
[2] A respeito do autor, podemos dizer que embora a obra que se citará não seja um documento pontifício e não tenha força da autoridade magisterial, podemos afirmar com certeza que, por sua própria personalidade, Joseph Ratzinger constitui uma voz extremamente abalizada por ter sido perito do Concílio Vaticano II, de modo que seu pensamento, de certo modo, é uma voz que ressoa das fontes do Concílio e, ainda mais, sua teologia se mostra autêntica e segura, isto é, confiável.
[3] RATZINGER, Joseph, Introdução ao Espírito da Liturgia. São Paulo: Paulinas, IV Ed. 2011, pp. 136 – 143.
[4] Ibid. p 137.
[5] Ibidem.
[6]  Em grego προσκυνειν
[7] Cf. Opus Cit. p. 141.
[9] Grifo nosso.
[10] A propósito, a origem da palavra heresia (do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, “escolha” ou “opção”, remonta a ideia de assumir somente uma parte e não o todo.
[11] Cf. Ap 5, 6 – isto é, morto e ressuscitado. 
[12] A propósito do Livro Apocalipse de São João, a palavra proskynein aparece 24 vezes.
[13] O autor diz “Diante de tudo isso, vale a pena perguntar: Qual o sentido do ajoelhar-se na celebração Eucarística para mim?”. Ora, não se pode particularizar uma matéria universal e, uma vez que a liturgia não é “minha” (aliás, atestam-no os documentos magisteriais), não se entende, no contexto do debate a expressão “para mim”, redundando em absurdo.
[14] Cânon XX
[15] IGMR 20. Grifo nosso.
[16] Ibid. 21
[17] Skopeuo, literalmente significa “objetivo”, “pretender”, “ter em vista”. O radical está presente em palavras como telescópio que remontam a ideia de ver, enxergar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MATRIMÔNIO E SEGUNDA UNIÃO


Respondendo à pergunta enviada por e-mail, trazemos uma reflexão sobre o matrimônio e os casais em segunda união. Agradecemos a participação de nosso leitor e esperamos ter respondido de maneira satisfatória.


  
INTRODUZINDO O TEMA

O tema que agora temos diante dos olhos é bem complexo por vários motivos. De um lado, por que toca no sentimento (e traz toda carga emocional de vida) das pessoas e de outro por que é inegociável um princípio, sob pena de perdermos o foco e o eixo da fé, isso significa dizer que se nossa prática pastoral não concorda com a revelação, fatalmente nos carregaria para a traição daquilo que Deus quis para a Igreja.
O que comumente se chama de pastoral da “segunda união” ou de “recasados” é o nosso foco. Mas devemos, antes de qualquer coisa, admitir que nosso espaço não seja o apropriado para debater esse assunto. Cabe-nos, com limitações impostas pelo meio (as limitações de um blog), apontar algumas reflexões sobre o tema e uma alternativa pastoral.
Contudo, não podemos tocar no tema de nosso objetivo sem antes colocar sólidas raízes da doutrina católica. Destarte abordaremos o tema partindo do próprio matrimônio, para depois vislumbrar o vasto campo de trabalhos e, só depois dessa visão, propor uma reflexão sobre as “uniões de fato”.

1)    PALAVRA INICIAL: O QUE É O MATRIMÔNIO?

Convivemos com uma esquizofrenia[1] social por que, se de um lado fez-se questão de destruir o matrimônio como o conhecíamos, a saber, aliança e comunidade conjugal indissolúvel, introduzindo rupturas que o descaracterizaram, de outro, vemos discursos inflamados por parte de militâncias homoafetivas a fim de requererem um chamado direito a verem suas uniões reconhecidas. [2]
Neste ambiente doente é que sentimos pesar sobre nossas cabeças a responsabilidade anunciar um futuro que seja justo e misericordioso, isto é curado[3] para a família, núcleo da sociedade.

a)    Noção canônica

A Palavra “matrimônio” designa indistintamente a celebração do matrimônio (no sentido de bodas, núpcias, aliança, ou consentimento matrimonial) e o estado ou situação de casados (comunidade conjugal, vínculo conjugal). No direito canônico diz-se, no primeiro caso, matrimônio in fieri, enquanto aliança e no segundo caso, in facto esse, ou seja, o estado matrimonial.
O cânon 1055 (cân. 1055) recolhe em seu enunciado um conceito em termos jurídicos. Assim, matrimônio é o pacto pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole. [4]
Para além de uma terminologia fria, o Código de Direito Canônico (CIC) mostra uma grande intuição sobre o matrimônio, isto é, que o matrimônio é o “ambiente” propício para o bem do homem e da mulher e, por isso, neste ambiente sadio e ordenado para o bem encontra espaço o dom da maternidade/paternidade a que se responde com o cuidado ou educação dos filhos.
Daí, naturalmente se chega que os predicados que fluem da essência do matrimônio. São predicados essenciais do matrimônio a unidade (impossibilidade de vínculos simultâneos) e indissolubilidade[5] (impossibilidade de vínculos sucessivos a não ser em caso de morte do cônjuge precedente).
O ato da vontade que produz o matrimônio é o consentimento, cujo objeto é a entrega mútua de um homem a uma mulher, estando aqui resolvidas as finalidades do matrimônio referidas acima.
Por este corolário de definições técnicas chega-se à compreensão de que a comunhão de toda a vida requer a entrega mútua e total da pessoa no matrimônio.

b)   Pistas doutrinais

 Para além de um ordenamento jurídico, o matrimônio é uma vocação abraçada na liberdade e responsabilidade para formar realmente uma comunidade de vida e amor, principais pilares da comunhão.  Queremos deixar algumas pistas doutrinas para o aprofundamento do tema.
O Catecismo da Igreja Católica (CCC) trata o tema do matrimônio no artigo sétimo e, colocando o amor como base do relacionamento entre homem e mulher, expressa que a vocação ao matrimônio é querida pelo Criador, não sendo simplesmente um arranjo humano, mas vocação “inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador” [6].
Do Gênese ao Apocalipse, o Catecismo realça a fundamentação bíblica do matrimônio. Apontando os desígnios de Deus e as desordens advindas, não da natureza do ser humano, mas do pecado, apresenta uma síntese da doutrina do matrimônio.
Cabe ressaltar que a aliança nupcial entre o homem e a mulher, segundo o Catecismo é análoga às núpcias entre Deus e seu povo, isto é, entre o Cordeiro e a Noiva, o Cristo e sua Igreja.
“Todavia, a vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o Batismo, entrada no Povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o banho das núpcias que precede o banquete das núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja.” [7]
 Ao mesmo tempo em que se recoloca o plano de Deus para a vida conjugal, com base na assertiva do Senhor: “Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim” [8], o Catecismo também apresenta um plano de vida para o matrimônio, a saber, A Igreja doméstica[9].
De modo didático, o novo YouCat, com uma linguagem jovem e mais prática caminha nos passos do Catecismo. Partindo do texto de Mt 19,5[10] orienta a sacramentalidade e a fecundidade na experiência do verdadeiro amor que transborda abrindo espaço para a vida, quer no bem do casal, quer nos seus filhos.  Assim o matrimônio é ambiente para o amor em toda a sua plenitude e bondade.
Contra a cultura do descartável, o Setor Juventude da CNBB, no seu Subsídio Afetividade e Sexualidade[11], com o intuito de realçar a fidelidade matrimonial, encartou um fascículo com o tema “Ficar, eu te conheço?” [12]·, onde explica que “O ficar acaba ganhando uma faceta muito fria. Usar e descartar alguém sem respeitar sua identidade e sentimentos é desvalorizar a pessoa”.

c)    Noção existencial

Nestes termos, parecem depreenderem-se duas realidades do fato próprio do matrimônio. Uma coisa é “casar-se” e outra “estar casado”. Em outras palavras, o fato de ter havido um sacramento e a frutuosidade do mesmo são duas instâncias que, embora interdependentes, são distintas.
O “estar casado” deve resolver-se na construção diária da comunidade de amor entre homem, mulher e seus filhos de modo que realizem na sua existência aquilo que celebraram, isto é, fazer concordar o ato de fé com o fato da vida.
Decorre daí o fato de que a liberdade da qual se reveste o matrimônio não é dissociada da responsabilidade [13], mas a supõe quando dos nubentes dependem amarem-se a fim de converterem-se realmente em esposo e esposa, vivendo de acordo com sua condição de casados.
No matrimônio, comunidade é o modo de relacionarem-se homem e mulher diante de Deus, valorizando-se cada um por si mesmo com base da diferenciação e complementaridade enquanto vivem uma verdadeira espiritualidade conjugal. Homem e mulher, orientados um para o outro, não perdem, portanto, sua personalidade e individualidade, mas se completam e suprem e elevam-se a Deus.
Neste ponto a maior expressão dessa realidade é a complementaridade sexual que expressa em concreto tudo o quanto temos dito. A beleza do sexo deixa entrever, num só ato, a diferenciação, a comunidade, a complementaridade, o amor, a abertura para a vida realizando assim a dimensão unitiva fundamentada no bem mútuo e na cooperação entre esposos para o bem da família.

2)    OS PROBLEMAS

Não raro, vemos casais chegaram ao matrimônio sem levar em conta essas observações que fizemos nos tópicos precedentes e, lamentavelmente, quer pela imaturidade ao assumir tão nobre estado de vida, quer pela falta de preparação (de um lado pessoal, de outro moral), vemos casamentos celebrados esbarrarem em dificuldade que poderiam ser solucionadas com um pouco de empenho de ambas as partes.
Tratar desses problemas é um imperativo na Igreja, uma verdadeira obra de misericórdia. Como disse o bispo de San Sebastián, Dom José Ignacio Munilla, no último dia 8 de setembro, “Não podemos permanecer com os braços cruzados enquanto nossos familiares, conhecidos e vizinhos fracassam em seus projetos matrimoniais. É importante que, na medida em que consideremos oportuno, nós nos ofereçamos como canais de comunicação”.

a)    Como resolvê-los

Não é fácil abortar a solução para os problemas conjugas se não tivermos como base a intenção real do casal para adquirir disposições para superar crises e desentendimentos que decorrem do dia-a-dia num casamento.
Fatores que se tornam verdadeiras zonas de risco como convivência e harmonia, reciprocidade e amizade, conversa e entendimento são agravadas pela falta de maturidade humana e afetiva acrescidos de uma má experiência psicológica. Quando não há esforço humano pessoal há sempre a anulação de uma ou ambas as partes colocando o casal no isolamento.
O Pe. Henri Caffarel, das Equipes de Nossa Senhora declara:  “Não creio estar fazendo julgamento temerário se afirmar que s melhores casais cristãos, que jamais faltam com o dever de ajoelhar-se, cometem muitas vezes o pecado de não se sentar”[14].
Tão grave e urgente quanto o dever de rezar, portanto, torna-se o dever de dialogar abertamente sem desejar sobrepujar, ameaçar ou chantagear (de nenhum modo). Neste diálogo, não importa convencer, mas entender e ser entendido. Uma vez isso acontecido, todas as decisões tornam-se maduras e conjuntas.
É claro que se deve compreender e levar em conta as estruturas emocionais e afetivas do homem e da mulher. Sempre dizemos que não precisamos de um médico ou um psicóloga para mostrar as diferenças entre um homem e uma mulher, mas que estas podem ser percebidas à olho nu.
A esposa, ao procurar seu esposo para conversar, nem sempre quer uma solução para o fato – algumas vezes ela já a tem. O que ela deseja de fato é alguém para conversar, partilhar as preocupações. Contudo, o homem que, via de regra, tende ao praticismo, está sempre com uma resposta na ponta da língua. Embora tenha a melhor das boas intenções, a esposa sente que seu problema foi menosprezado pelo esposo e tem a impressão que ele não a acolheu. Aqui começa tudo!
É necessária a paciência para ouvir, mesmo que pareça para o esposo a coisa mais simples do mundo. A esposa não deseja uma solução, mas alguém para compartilhar a experiência.
De outro lado, as esposas são desconfiadas ao estremo e, talvez por isso, sejam inseguras. É necessário fazer um esforço mental para não deixar os fantasmas interiores sugerirem mentiras. Pode acontecer que o marido, ao chegar em casa cabisbaixo, silencioso, só esteja chateado com algo do trabalho ou com seu time que perdeu. Como os homens têm mais dificuldades em verbalizar seus sentimentos, a esposa cria os fantasmas e acredita neles.
É necessário saber dar o tempo de o esposo sentir-se a vontade para que ela possa perguntar o que houve e criar uma via de acesso ao interior do esposo para, em fim, tirá-lo da solidão emocional na qual a maior parte dos homens vivem.
Outro problema é ser resolvido é o ambiente físico. O lar de um homem precisa ser seu refúgio, sua proteção. Imagine o marido ao chegar em casa, cansado do trabalho, tendo tido um dia difícil, após pegar um ônibus lotado e com um milhão de problemas na cabeça (que variam entre contas à pagar e filhos à cuidar) ao chegar em casa encontra um ambiente sujo, bagunçado, com mal odor, barulhento... Depara-se com sua esposa suja, descabelada, com a louça na pia por lavar e as crianças ainda por cuidar... Estresse em cima de estresse resulta em problemas de relacionamento.
O lar deve ser limpo, asseado, organizado. A esposa precisa ter organizado sua casa (mesmo que não ela diretamente, já que muitas hoje em dia trabalham foram) para que seu marido tenha vontade de voltar para lá. Do contrário, relutará sempre em voltar para casa e preferirá outros ambientes que seu próprio lar.
Também o marido deve ter em conta de que, ao casar-se, não contratou uma empregada doméstica não remunerada! Isso seria fatal num relacionamento. É necessária a sua ajuda nas tarefas domésticas, mesmo que mínima que seja (lavar a louça, manter o banheiro limpo, não deixar coisas pelo chão e etc.). Atitudes comuns devem ser tomadas, para isso é fácil dividir as tarefas.
Essas são algumas sugestões que normalmente fazemos para melhorar a vida dos casais que se aproximam ou entram em zonas de conflito. Outras poderiam ser detectadas com uma conversa mais franca e demorada. Cada caso é um caso e cabe ao casal dialogar para encontrar as zonas de tensão de seus relacionamentos.
Também os filhos devem ser levados em consideração neste aspecto e não tem coisa mais difícil de resolver quando, no lar, o marido desautoriza a esposa ou vice-versa. Os filhos logo percebem esse ponto frágil e tomam proveito disso. É necessário combinar sempre as atitudes. Também não se pode ceder ao medo de dizer não aos filhos, mas não se deve deixar igualmente de explicar os motivos. Lembremo-nos que explicar os motivos não é debate-los. Um não é sempre um não!
Pedir perdão quando errar é um imperativo, mas percebamos que não é um simples “desculpe-me”. Pedir perdão é assumir que estava errado, ao passo que desculpar-se é não assumir o erro, mas leva-lo em conta de um mero acidente. Reconhecer o erro enobrece a pessoa.
Um lar em harmonia não é um lar que não tem desentendimentos, mas um lar que consegue superá-los com maturidade. Muito ainda se poderia dizer, mas deixo a cargo da experiência cotidiana revelar os mistérios e alegrias de uma relação familiar madura.

3)     As chamadas segundas uniões

Agora que já vimos o matrimônio em seus meandros, podemos considerar o objetivo de nossa reflexão: as chamadas segundas uniões. É necessário, contudo, um olhar atento ao magistério perene da Igreja que se manifesta atualizando a palavra de Deus nos nossos dias sem se descuidar de um acurado olhar para o homem.
Em 1981, o Beato João Paulo II, contempla na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, no item IV, a pastoral familiar nos casos difíceis e ensina que “a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis” e convida a comunidade cristã a não desamparar o cônjuge separado afim de que ele viva uma autentica vida cristã superando a solidão e conservar a fidelidade nesta situação cultivando o perdão e a possibilidade de abertura para reatar o casamento.
Sugere, assim, aos separados uma vida fiel, prescindindo de uma nova união resguardando assim a fidelidade a si e ao Senhor. Não raro vemos pessoas que se separaram e não contraíram novas núpcias a fim de permanecerem na comunhão eucarística.

“Análogo é o caso do cônjuge que foi vítima de divórcio, mas que - conhecendo bem a indissolubilidade do vínculo matrimonial válido - não se deixa arrastar para uma nova união, empenhando-se, ao contrário, unicamente no cumprimento dos deveres familiares e na responsabilidade da vida cristã. Em tal caso, o seu exemplo de fidelidade e de coerência cristã assume um valor particular de testemunho diante do mundo e da Igreja, tornando mais necessária ainda, da parte desta, uma acção contínua de amor e de ajuda, sem algum obstáculo à admissão aos sacramentos.” [15]
 Todo o esforço para que os que se encontram nesta situação não se sintam abandonados ou excluídos da Igreja é requerido principalmente da parte dos pastores.
Em 1997, na “XIII ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA” ao reafirmar que os casais em segunda união não podem ser admitidos à mesa da comunhão e nem à confissão[16], expressa a necessidade de uma atenção ao casal e aos seus filhos, principalmente aos do casamento precedente.
Em 2000 o Pontifício Conselho para a família emanou, sob o comando do Card. Trujillo, o documento intitulado “FAMÍLIA, MATRIMÔNIO E “UNIÕES DE FATO” que incidiu luz sobre este tema. Embora o termo “uniões de fato” não diga respeito somente aos casais em segunda união, este documento abrange bem a concepção estranha do mundo moderno sobre o matrimônio e denuncia erros que redundam em minimização do matrimônio e, consequentemente, da família.
Realça principalmente o valor que há na família tal como querida por Deus não só para os seus entes, mas também para a sociedade como um todo. Distingue as várias modalidades de “uniões” e corrige o erro do chamado “amor livre” que, exatamente por não compreender o sentido mais puro de responsabilidade, contradiz-se por que o amor será tanto mais livre quanto mais responsável e não há responsabilidade real se o amor não for uma resposta ao que Deus quis originariamente.

a)    Vida em Cristo na Igreja

A Vida em Cristo e na Igreja aos casais que se encontram em segundas núpcias não está vedada, por conta daquela restrição à comunhão eucarística. Não estão impedidos de viver uma verdadeira comunhão com Cristo na Igreja e, exatamente por isso, gozam os fiéis nessa situação da solicitude dos pastores.
A Congregação para a Doutrina da fé lembrou que “é necessário esclarecer os fiéis interessados para que não considerem a sua participação na vida da Igreja reduzida exclusivamente à questão da recepção da Eucaristia. Os fiéis hão de ser ajudados a aprofundar a sua compreensão do valor da participação no sacrifício de Cristo na Missa, da comunhão espiritual, da oração, da meditação da palavra de Deus, das obras de caridade e de justiça” [17].

b)   Comunhão Eucarística

Decerto, reiteradas vezes o Magistério se pronunciou nesta matéria, mas de modo mais explícito, o Card. Josef Ratzinger, na Carta aos Bispos da Igreja Católica a Respeito da Recepção da Comunhão Eucarística por Fiéis Divorciados Novamente Casados resgata sinteticamente, porém suficientemente, a doutrina católica mostrando que não se trata, contudo, de uma punição ou discriminação, mas de uma impossibilidade real, uma vez que seu estado de vida contradiz aquela união entre Cristo e a Igreja que é expressa pela comunhão.
Ademais, há que se ter aquela recomendação de São Paulo, segundo a qual “Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignadamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação” [18]. Desta forma, quando a Igreja reafirma a impossibilidade da comunhão eucarística aos novamente casados o faz por zelo e cuidado, para que não sejam condenados.
Não obstante, não lhes fica vedada a contemplação fervorosa da hóstia. Essa comunhão espiritual se torna uma verdadeira comunhão à medida que se torna uma “manducatio per visum” [manducação pelo olhar], não só na missa, mas também na vigílias eucarísticas, na adorações e bênçãos do Santíssimo.

c)    Pastoral e participação

Embora os documentos da igreja falem em uma participação ativa na vida pastoral da comunidade, não especificam exatamente em que campo poderia atuar um casal que se encontra em segundas núpcias. No entanto, é possível entrever algumas pistas desta atuação na Familiaris Consortio[19]:
“Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorarem, dia a dia, a graça de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança.”
 A frequência à Santa Missa e a escuta da palavra de Deus permanecem um dever de amor, acima de qualquer coisa. Não existiria real impedimento de um casal de segunda união que tenha comprovada vida eclesial e sérias disposições em viver, naquilo que podem, os mandamentos da Igreja participar da liturgia da missa fazendo leituras ou participando da animação litúrgica (momentos como a procissão das ofertas, comentaristas das missas, cantando no coro ou em ministérios de música). Algumas atividades que envolvam, pela força do ofício, a comunhão eucarística (tais como o ministério do Acolitato ou mesmo o ministério da distribuição eucarística e a função de catequista) consistiriam numa dificuldade para os recasados por força da necessidade da prática da comunhão eucarística.
Outro vasto campo de ação pastoral encontra-se nas pastorais caritativas e nos grupos de estudo bíblico-catequético onde são convidados a escutarem atentamente à Palavra de Deus.
Abre-se também um grande campo de atuação nos grupos de oração e de evangelização onde poderão dar verdadeiro testemunho de perseverança e fé animando a outras pessoas a participarem igualmente da vida na Igreja. Os pastores devem empenhar-se em criar oportunidades para retiros e atividades que instem a convivência fraterna entre os casais em segunda união num verdadeiro clima de unidade e fraternidade.

CONCLUSÃO

Como pudemos perceber, não resulta em trabalho de pouca monta perfazer a noção exata do Magistério da Igreja no que diz respeito ao matrimônio e as situações especiais. A Igreja tem buscado acolher e orientar os casais de modo que não se vejam frustrados os projetos matrimoniais ao mesmo tempo em que tenta assistir os casais em segunda união.
Via de regra, não se pode esquecer que a situação especial, mesmo que compreensível, não garante justificativa para admitir à comunhão eucarística os casais em segunda união que deverão ser instruídos sobre seu estado com a clareza e a franqueza que se hauri do Evangelho.
A verdade não exclui a gentileza, antes a requer de modo a acolher sempre a pessoa reconhecendo a dignidade da qual é constituída e que deve ser respeitada conferindo ao casal em segunda união a acolhida misericordiosa de Cristo.


[1] [Do grego Σχιζοφρένεια] esquizofréneia (esquizo- + grego phrên, -enós, diafragma, coração + -ia).  Para além de um sentido psiquiátrico, onde esquizofrenia significa “mente dividida” significando a dissociação entre a realidade e o pensamento da pessoa, se prestássemos atenção à etimologia da palavra grega perceberíamos a verdadeira doença que toca a sociedade hoje: Um coração isolado da realidade pelo diafragma dos vícios que debilitam o escolher.
[2] Interessante foi a percepção do escritor Luís Fernando Veríssimo: “Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha.”
[3] [do grego Sozo] sozo: a palavra grega pode ser tanto traduzida pelo verbo curar, como pelo verbo salvar.
[4] Estão aqui estabelecidas finalidades do matrimônio: bem dos cônjuges, geração e educação dos filhos.
[5] A indissolubilidade pode ser dita intrínseca (impossibilidade de ruptura do vínculo pelo próprio cônjuge) e extrínseca (impossibilidade de ruptura pela autoridade pública embora, neste caso, admitam-se algumas exceções Cf. Cân. 1141-1150).  
[6] Cf. CCC. 1603
[7] CCC. 1617
[8] Mateus 19,8
[9] CCC. 1655
[10] “Mt 19, 4-5: “Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne”
[11] CNBB. Aos Jovens com Aféto. Subsídio Afetividade e Sexualidade v. II. Brasília: Edições CNBB, 2011.
[12] Ibidem, fascículo 28.
[13] Isto é, obrigação de responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas.
[14] In: CASTRO, Flávio Cavalca de. Casal em Diálogo. 7Ed. Aparecida. Editora Santuário,2007. p.7.
[16] “A reconciliação pelo sacramento da penitência - que abriria o caminho ao sacramento eucarístico - pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimónio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios - quais, por exemplo, a educação dos filhos - não se podem separar, «assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos actos próprios dos cônjuges»” Ibid. n 84
[17] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Carta aos Bispos da Igreja Católica a Respeito da Recepção da Comunhão Eucarística por Fiéis Divorciados Novamente Casados, n 6 in http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_14091994_rec-holy-comm-by-divorced_po.html consultado em 04/10-2011
 [18] (1 Cor 11,27-29)
[19] Cf. Familiaris Consortio, n 84