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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MATRIMÔNIO E SEGUNDA UNIÃO


Respondendo à pergunta enviada por e-mail, trazemos uma reflexão sobre o matrimônio e os casais em segunda união. Agradecemos a participação de nosso leitor e esperamos ter respondido de maneira satisfatória.


  
INTRODUZINDO O TEMA

O tema que agora temos diante dos olhos é bem complexo por vários motivos. De um lado, por que toca no sentimento (e traz toda carga emocional de vida) das pessoas e de outro por que é inegociável um princípio, sob pena de perdermos o foco e o eixo da fé, isso significa dizer que se nossa prática pastoral não concorda com a revelação, fatalmente nos carregaria para a traição daquilo que Deus quis para a Igreja.
O que comumente se chama de pastoral da “segunda união” ou de “recasados” é o nosso foco. Mas devemos, antes de qualquer coisa, admitir que nosso espaço não seja o apropriado para debater esse assunto. Cabe-nos, com limitações impostas pelo meio (as limitações de um blog), apontar algumas reflexões sobre o tema e uma alternativa pastoral.
Contudo, não podemos tocar no tema de nosso objetivo sem antes colocar sólidas raízes da doutrina católica. Destarte abordaremos o tema partindo do próprio matrimônio, para depois vislumbrar o vasto campo de trabalhos e, só depois dessa visão, propor uma reflexão sobre as “uniões de fato”.

1)    PALAVRA INICIAL: O QUE É O MATRIMÔNIO?

Convivemos com uma esquizofrenia[1] social por que, se de um lado fez-se questão de destruir o matrimônio como o conhecíamos, a saber, aliança e comunidade conjugal indissolúvel, introduzindo rupturas que o descaracterizaram, de outro, vemos discursos inflamados por parte de militâncias homoafetivas a fim de requererem um chamado direito a verem suas uniões reconhecidas. [2]
Neste ambiente doente é que sentimos pesar sobre nossas cabeças a responsabilidade anunciar um futuro que seja justo e misericordioso, isto é curado[3] para a família, núcleo da sociedade.

a)    Noção canônica

A Palavra “matrimônio” designa indistintamente a celebração do matrimônio (no sentido de bodas, núpcias, aliança, ou consentimento matrimonial) e o estado ou situação de casados (comunidade conjugal, vínculo conjugal). No direito canônico diz-se, no primeiro caso, matrimônio in fieri, enquanto aliança e no segundo caso, in facto esse, ou seja, o estado matrimonial.
O cânon 1055 (cân. 1055) recolhe em seu enunciado um conceito em termos jurídicos. Assim, matrimônio é o pacto pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole. [4]
Para além de uma terminologia fria, o Código de Direito Canônico (CIC) mostra uma grande intuição sobre o matrimônio, isto é, que o matrimônio é o “ambiente” propício para o bem do homem e da mulher e, por isso, neste ambiente sadio e ordenado para o bem encontra espaço o dom da maternidade/paternidade a que se responde com o cuidado ou educação dos filhos.
Daí, naturalmente se chega que os predicados que fluem da essência do matrimônio. São predicados essenciais do matrimônio a unidade (impossibilidade de vínculos simultâneos) e indissolubilidade[5] (impossibilidade de vínculos sucessivos a não ser em caso de morte do cônjuge precedente).
O ato da vontade que produz o matrimônio é o consentimento, cujo objeto é a entrega mútua de um homem a uma mulher, estando aqui resolvidas as finalidades do matrimônio referidas acima.
Por este corolário de definições técnicas chega-se à compreensão de que a comunhão de toda a vida requer a entrega mútua e total da pessoa no matrimônio.

b)   Pistas doutrinais

 Para além de um ordenamento jurídico, o matrimônio é uma vocação abraçada na liberdade e responsabilidade para formar realmente uma comunidade de vida e amor, principais pilares da comunhão.  Queremos deixar algumas pistas doutrinas para o aprofundamento do tema.
O Catecismo da Igreja Católica (CCC) trata o tema do matrimônio no artigo sétimo e, colocando o amor como base do relacionamento entre homem e mulher, expressa que a vocação ao matrimônio é querida pelo Criador, não sendo simplesmente um arranjo humano, mas vocação “inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador” [6].
Do Gênese ao Apocalipse, o Catecismo realça a fundamentação bíblica do matrimônio. Apontando os desígnios de Deus e as desordens advindas, não da natureza do ser humano, mas do pecado, apresenta uma síntese da doutrina do matrimônio.
Cabe ressaltar que a aliança nupcial entre o homem e a mulher, segundo o Catecismo é análoga às núpcias entre Deus e seu povo, isto é, entre o Cordeiro e a Noiva, o Cristo e sua Igreja.
“Todavia, a vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o Batismo, entrada no Povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o banho das núpcias que precede o banquete das núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio cristão se torna, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja.” [7]
 Ao mesmo tempo em que se recoloca o plano de Deus para a vida conjugal, com base na assertiva do Senhor: “Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim” [8], o Catecismo também apresenta um plano de vida para o matrimônio, a saber, A Igreja doméstica[9].
De modo didático, o novo YouCat, com uma linguagem jovem e mais prática caminha nos passos do Catecismo. Partindo do texto de Mt 19,5[10] orienta a sacramentalidade e a fecundidade na experiência do verdadeiro amor que transborda abrindo espaço para a vida, quer no bem do casal, quer nos seus filhos.  Assim o matrimônio é ambiente para o amor em toda a sua plenitude e bondade.
Contra a cultura do descartável, o Setor Juventude da CNBB, no seu Subsídio Afetividade e Sexualidade[11], com o intuito de realçar a fidelidade matrimonial, encartou um fascículo com o tema “Ficar, eu te conheço?” [12]·, onde explica que “O ficar acaba ganhando uma faceta muito fria. Usar e descartar alguém sem respeitar sua identidade e sentimentos é desvalorizar a pessoa”.

c)    Noção existencial

Nestes termos, parecem depreenderem-se duas realidades do fato próprio do matrimônio. Uma coisa é “casar-se” e outra “estar casado”. Em outras palavras, o fato de ter havido um sacramento e a frutuosidade do mesmo são duas instâncias que, embora interdependentes, são distintas.
O “estar casado” deve resolver-se na construção diária da comunidade de amor entre homem, mulher e seus filhos de modo que realizem na sua existência aquilo que celebraram, isto é, fazer concordar o ato de fé com o fato da vida.
Decorre daí o fato de que a liberdade da qual se reveste o matrimônio não é dissociada da responsabilidade [13], mas a supõe quando dos nubentes dependem amarem-se a fim de converterem-se realmente em esposo e esposa, vivendo de acordo com sua condição de casados.
No matrimônio, comunidade é o modo de relacionarem-se homem e mulher diante de Deus, valorizando-se cada um por si mesmo com base da diferenciação e complementaridade enquanto vivem uma verdadeira espiritualidade conjugal. Homem e mulher, orientados um para o outro, não perdem, portanto, sua personalidade e individualidade, mas se completam e suprem e elevam-se a Deus.
Neste ponto a maior expressão dessa realidade é a complementaridade sexual que expressa em concreto tudo o quanto temos dito. A beleza do sexo deixa entrever, num só ato, a diferenciação, a comunidade, a complementaridade, o amor, a abertura para a vida realizando assim a dimensão unitiva fundamentada no bem mútuo e na cooperação entre esposos para o bem da família.

2)    OS PROBLEMAS

Não raro, vemos casais chegaram ao matrimônio sem levar em conta essas observações que fizemos nos tópicos precedentes e, lamentavelmente, quer pela imaturidade ao assumir tão nobre estado de vida, quer pela falta de preparação (de um lado pessoal, de outro moral), vemos casamentos celebrados esbarrarem em dificuldade que poderiam ser solucionadas com um pouco de empenho de ambas as partes.
Tratar desses problemas é um imperativo na Igreja, uma verdadeira obra de misericórdia. Como disse o bispo de San Sebastián, Dom José Ignacio Munilla, no último dia 8 de setembro, “Não podemos permanecer com os braços cruzados enquanto nossos familiares, conhecidos e vizinhos fracassam em seus projetos matrimoniais. É importante que, na medida em que consideremos oportuno, nós nos ofereçamos como canais de comunicação”.

a)    Como resolvê-los

Não é fácil abortar a solução para os problemas conjugas se não tivermos como base a intenção real do casal para adquirir disposições para superar crises e desentendimentos que decorrem do dia-a-dia num casamento.
Fatores que se tornam verdadeiras zonas de risco como convivência e harmonia, reciprocidade e amizade, conversa e entendimento são agravadas pela falta de maturidade humana e afetiva acrescidos de uma má experiência psicológica. Quando não há esforço humano pessoal há sempre a anulação de uma ou ambas as partes colocando o casal no isolamento.
O Pe. Henri Caffarel, das Equipes de Nossa Senhora declara:  “Não creio estar fazendo julgamento temerário se afirmar que s melhores casais cristãos, que jamais faltam com o dever de ajoelhar-se, cometem muitas vezes o pecado de não se sentar”[14].
Tão grave e urgente quanto o dever de rezar, portanto, torna-se o dever de dialogar abertamente sem desejar sobrepujar, ameaçar ou chantagear (de nenhum modo). Neste diálogo, não importa convencer, mas entender e ser entendido. Uma vez isso acontecido, todas as decisões tornam-se maduras e conjuntas.
É claro que se deve compreender e levar em conta as estruturas emocionais e afetivas do homem e da mulher. Sempre dizemos que não precisamos de um médico ou um psicóloga para mostrar as diferenças entre um homem e uma mulher, mas que estas podem ser percebidas à olho nu.
A esposa, ao procurar seu esposo para conversar, nem sempre quer uma solução para o fato – algumas vezes ela já a tem. O que ela deseja de fato é alguém para conversar, partilhar as preocupações. Contudo, o homem que, via de regra, tende ao praticismo, está sempre com uma resposta na ponta da língua. Embora tenha a melhor das boas intenções, a esposa sente que seu problema foi menosprezado pelo esposo e tem a impressão que ele não a acolheu. Aqui começa tudo!
É necessária a paciência para ouvir, mesmo que pareça para o esposo a coisa mais simples do mundo. A esposa não deseja uma solução, mas alguém para compartilhar a experiência.
De outro lado, as esposas são desconfiadas ao estremo e, talvez por isso, sejam inseguras. É necessário fazer um esforço mental para não deixar os fantasmas interiores sugerirem mentiras. Pode acontecer que o marido, ao chegar em casa cabisbaixo, silencioso, só esteja chateado com algo do trabalho ou com seu time que perdeu. Como os homens têm mais dificuldades em verbalizar seus sentimentos, a esposa cria os fantasmas e acredita neles.
É necessário saber dar o tempo de o esposo sentir-se a vontade para que ela possa perguntar o que houve e criar uma via de acesso ao interior do esposo para, em fim, tirá-lo da solidão emocional na qual a maior parte dos homens vivem.
Outro problema é ser resolvido é o ambiente físico. O lar de um homem precisa ser seu refúgio, sua proteção. Imagine o marido ao chegar em casa, cansado do trabalho, tendo tido um dia difícil, após pegar um ônibus lotado e com um milhão de problemas na cabeça (que variam entre contas à pagar e filhos à cuidar) ao chegar em casa encontra um ambiente sujo, bagunçado, com mal odor, barulhento... Depara-se com sua esposa suja, descabelada, com a louça na pia por lavar e as crianças ainda por cuidar... Estresse em cima de estresse resulta em problemas de relacionamento.
O lar deve ser limpo, asseado, organizado. A esposa precisa ter organizado sua casa (mesmo que não ela diretamente, já que muitas hoje em dia trabalham foram) para que seu marido tenha vontade de voltar para lá. Do contrário, relutará sempre em voltar para casa e preferirá outros ambientes que seu próprio lar.
Também o marido deve ter em conta de que, ao casar-se, não contratou uma empregada doméstica não remunerada! Isso seria fatal num relacionamento. É necessária a sua ajuda nas tarefas domésticas, mesmo que mínima que seja (lavar a louça, manter o banheiro limpo, não deixar coisas pelo chão e etc.). Atitudes comuns devem ser tomadas, para isso é fácil dividir as tarefas.
Essas são algumas sugestões que normalmente fazemos para melhorar a vida dos casais que se aproximam ou entram em zonas de conflito. Outras poderiam ser detectadas com uma conversa mais franca e demorada. Cada caso é um caso e cabe ao casal dialogar para encontrar as zonas de tensão de seus relacionamentos.
Também os filhos devem ser levados em consideração neste aspecto e não tem coisa mais difícil de resolver quando, no lar, o marido desautoriza a esposa ou vice-versa. Os filhos logo percebem esse ponto frágil e tomam proveito disso. É necessário combinar sempre as atitudes. Também não se pode ceder ao medo de dizer não aos filhos, mas não se deve deixar igualmente de explicar os motivos. Lembremo-nos que explicar os motivos não é debate-los. Um não é sempre um não!
Pedir perdão quando errar é um imperativo, mas percebamos que não é um simples “desculpe-me”. Pedir perdão é assumir que estava errado, ao passo que desculpar-se é não assumir o erro, mas leva-lo em conta de um mero acidente. Reconhecer o erro enobrece a pessoa.
Um lar em harmonia não é um lar que não tem desentendimentos, mas um lar que consegue superá-los com maturidade. Muito ainda se poderia dizer, mas deixo a cargo da experiência cotidiana revelar os mistérios e alegrias de uma relação familiar madura.

3)     As chamadas segundas uniões

Agora que já vimos o matrimônio em seus meandros, podemos considerar o objetivo de nossa reflexão: as chamadas segundas uniões. É necessário, contudo, um olhar atento ao magistério perene da Igreja que se manifesta atualizando a palavra de Deus nos nossos dias sem se descuidar de um acurado olhar para o homem.
Em 1981, o Beato João Paulo II, contempla na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, no item IV, a pastoral familiar nos casos difíceis e ensina que “a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis” e convida a comunidade cristã a não desamparar o cônjuge separado afim de que ele viva uma autentica vida cristã superando a solidão e conservar a fidelidade nesta situação cultivando o perdão e a possibilidade de abertura para reatar o casamento.
Sugere, assim, aos separados uma vida fiel, prescindindo de uma nova união resguardando assim a fidelidade a si e ao Senhor. Não raro vemos pessoas que se separaram e não contraíram novas núpcias a fim de permanecerem na comunhão eucarística.

“Análogo é o caso do cônjuge que foi vítima de divórcio, mas que - conhecendo bem a indissolubilidade do vínculo matrimonial válido - não se deixa arrastar para uma nova união, empenhando-se, ao contrário, unicamente no cumprimento dos deveres familiares e na responsabilidade da vida cristã. Em tal caso, o seu exemplo de fidelidade e de coerência cristã assume um valor particular de testemunho diante do mundo e da Igreja, tornando mais necessária ainda, da parte desta, uma acção contínua de amor e de ajuda, sem algum obstáculo à admissão aos sacramentos.” [15]
 Todo o esforço para que os que se encontram nesta situação não se sintam abandonados ou excluídos da Igreja é requerido principalmente da parte dos pastores.
Em 1997, na “XIII ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA” ao reafirmar que os casais em segunda união não podem ser admitidos à mesa da comunhão e nem à confissão[16], expressa a necessidade de uma atenção ao casal e aos seus filhos, principalmente aos do casamento precedente.
Em 2000 o Pontifício Conselho para a família emanou, sob o comando do Card. Trujillo, o documento intitulado “FAMÍLIA, MATRIMÔNIO E “UNIÕES DE FATO” que incidiu luz sobre este tema. Embora o termo “uniões de fato” não diga respeito somente aos casais em segunda união, este documento abrange bem a concepção estranha do mundo moderno sobre o matrimônio e denuncia erros que redundam em minimização do matrimônio e, consequentemente, da família.
Realça principalmente o valor que há na família tal como querida por Deus não só para os seus entes, mas também para a sociedade como um todo. Distingue as várias modalidades de “uniões” e corrige o erro do chamado “amor livre” que, exatamente por não compreender o sentido mais puro de responsabilidade, contradiz-se por que o amor será tanto mais livre quanto mais responsável e não há responsabilidade real se o amor não for uma resposta ao que Deus quis originariamente.

a)    Vida em Cristo na Igreja

A Vida em Cristo e na Igreja aos casais que se encontram em segundas núpcias não está vedada, por conta daquela restrição à comunhão eucarística. Não estão impedidos de viver uma verdadeira comunhão com Cristo na Igreja e, exatamente por isso, gozam os fiéis nessa situação da solicitude dos pastores.
A Congregação para a Doutrina da fé lembrou que “é necessário esclarecer os fiéis interessados para que não considerem a sua participação na vida da Igreja reduzida exclusivamente à questão da recepção da Eucaristia. Os fiéis hão de ser ajudados a aprofundar a sua compreensão do valor da participação no sacrifício de Cristo na Missa, da comunhão espiritual, da oração, da meditação da palavra de Deus, das obras de caridade e de justiça” [17].

b)   Comunhão Eucarística

Decerto, reiteradas vezes o Magistério se pronunciou nesta matéria, mas de modo mais explícito, o Card. Josef Ratzinger, na Carta aos Bispos da Igreja Católica a Respeito da Recepção da Comunhão Eucarística por Fiéis Divorciados Novamente Casados resgata sinteticamente, porém suficientemente, a doutrina católica mostrando que não se trata, contudo, de uma punição ou discriminação, mas de uma impossibilidade real, uma vez que seu estado de vida contradiz aquela união entre Cristo e a Igreja que é expressa pela comunhão.
Ademais, há que se ter aquela recomendação de São Paulo, segundo a qual “Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignadamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação” [18]. Desta forma, quando a Igreja reafirma a impossibilidade da comunhão eucarística aos novamente casados o faz por zelo e cuidado, para que não sejam condenados.
Não obstante, não lhes fica vedada a contemplação fervorosa da hóstia. Essa comunhão espiritual se torna uma verdadeira comunhão à medida que se torna uma “manducatio per visum” [manducação pelo olhar], não só na missa, mas também na vigílias eucarísticas, na adorações e bênçãos do Santíssimo.

c)    Pastoral e participação

Embora os documentos da igreja falem em uma participação ativa na vida pastoral da comunidade, não especificam exatamente em que campo poderia atuar um casal que se encontra em segundas núpcias. No entanto, é possível entrever algumas pistas desta atuação na Familiaris Consortio[19]:
“Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorarem, dia a dia, a graça de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança.”
 A frequência à Santa Missa e a escuta da palavra de Deus permanecem um dever de amor, acima de qualquer coisa. Não existiria real impedimento de um casal de segunda união que tenha comprovada vida eclesial e sérias disposições em viver, naquilo que podem, os mandamentos da Igreja participar da liturgia da missa fazendo leituras ou participando da animação litúrgica (momentos como a procissão das ofertas, comentaristas das missas, cantando no coro ou em ministérios de música). Algumas atividades que envolvam, pela força do ofício, a comunhão eucarística (tais como o ministério do Acolitato ou mesmo o ministério da distribuição eucarística e a função de catequista) consistiriam numa dificuldade para os recasados por força da necessidade da prática da comunhão eucarística.
Outro vasto campo de ação pastoral encontra-se nas pastorais caritativas e nos grupos de estudo bíblico-catequético onde são convidados a escutarem atentamente à Palavra de Deus.
Abre-se também um grande campo de atuação nos grupos de oração e de evangelização onde poderão dar verdadeiro testemunho de perseverança e fé animando a outras pessoas a participarem igualmente da vida na Igreja. Os pastores devem empenhar-se em criar oportunidades para retiros e atividades que instem a convivência fraterna entre os casais em segunda união num verdadeiro clima de unidade e fraternidade.

CONCLUSÃO

Como pudemos perceber, não resulta em trabalho de pouca monta perfazer a noção exata do Magistério da Igreja no que diz respeito ao matrimônio e as situações especiais. A Igreja tem buscado acolher e orientar os casais de modo que não se vejam frustrados os projetos matrimoniais ao mesmo tempo em que tenta assistir os casais em segunda união.
Via de regra, não se pode esquecer que a situação especial, mesmo que compreensível, não garante justificativa para admitir à comunhão eucarística os casais em segunda união que deverão ser instruídos sobre seu estado com a clareza e a franqueza que se hauri do Evangelho.
A verdade não exclui a gentileza, antes a requer de modo a acolher sempre a pessoa reconhecendo a dignidade da qual é constituída e que deve ser respeitada conferindo ao casal em segunda união a acolhida misericordiosa de Cristo.


[1] [Do grego Σχιζοφρένεια] esquizofréneia (esquizo- + grego phrên, -enós, diafragma, coração + -ia).  Para além de um sentido psiquiátrico, onde esquizofrenia significa “mente dividida” significando a dissociação entre a realidade e o pensamento da pessoa, se prestássemos atenção à etimologia da palavra grega perceberíamos a verdadeira doença que toca a sociedade hoje: Um coração isolado da realidade pelo diafragma dos vícios que debilitam o escolher.
[2] Interessante foi a percepção do escritor Luís Fernando Veríssimo: “Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha.”
[3] [do grego Sozo] sozo: a palavra grega pode ser tanto traduzida pelo verbo curar, como pelo verbo salvar.
[4] Estão aqui estabelecidas finalidades do matrimônio: bem dos cônjuges, geração e educação dos filhos.
[5] A indissolubilidade pode ser dita intrínseca (impossibilidade de ruptura do vínculo pelo próprio cônjuge) e extrínseca (impossibilidade de ruptura pela autoridade pública embora, neste caso, admitam-se algumas exceções Cf. Cân. 1141-1150).  
[6] Cf. CCC. 1603
[7] CCC. 1617
[8] Mateus 19,8
[9] CCC. 1655
[10] “Mt 19, 4-5: “Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne”
[11] CNBB. Aos Jovens com Aféto. Subsídio Afetividade e Sexualidade v. II. Brasília: Edições CNBB, 2011.
[12] Ibidem, fascículo 28.
[13] Isto é, obrigação de responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas.
[14] In: CASTRO, Flávio Cavalca de. Casal em Diálogo. 7Ed. Aparecida. Editora Santuário,2007. p.7.
[16] “A reconciliação pelo sacramento da penitência - que abriria o caminho ao sacramento eucarístico - pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimónio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios - quais, por exemplo, a educação dos filhos - não se podem separar, «assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos actos próprios dos cônjuges»” Ibid. n 84
[17] Cf. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Carta aos Bispos da Igreja Católica a Respeito da Recepção da Comunhão Eucarística por Fiéis Divorciados Novamente Casados, n 6 in http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_14091994_rec-holy-comm-by-divorced_po.html consultado em 04/10-2011
 [18] (1 Cor 11,27-29)
[19] Cf. Familiaris Consortio, n 84

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Deus e o Homem


INTRODUÇÃO

Abordar de maneira simples e direta a questão da dignidade do homem a partir da Constituição Pastoral Gaudium et Spes é uma tarefa que requereria um grande esforço e demandaria um espaço de tempo quase que infinito, já que o assunto toca o nosso mistério mais significativo: a nossa união ontológica com Deus e nosso agir em vista dele.
Propomo-nos de uma forma singela a apresentar de forma breve, mas buscando um olhar espiritual, a dignidade do homem. Fazemo-lo a partir da relação entre DEUS E O HOMEM, isto é, criador e criatura através de uma pergunta que a muito ecoa na história do pensamento humano e que buscamos sua resposta pelo caminho da Palavra de Deus.
Em seguida, queremos mostra que esta descoberta gera um agir e que este agir está fulcrado na consciência moral do homem que reproduz, em seu silencio, o grito de auto- conhecimento.
Não pretendemos esgotar o assunto, antes lançamos questionamentos sobre o HOMEM E DEUS, acompanhando um movimento anabático que requer do homem conhecimento de si e domínio de seu ser rumo ao que se orienta naturalmente.
Essa resposta só pode ser apreendida se, no âmbito do amor, entendermos que nossa diretriz máxima e irrevogável, comunicada por Deus, deve ser seguida retamente e aperfeiçoada.
Ainda uma advertência deve ser feita: conhecer-se a si mesmo é o principio do conhecimento de Deus, isto é, conhecer sua consciência e dignidade é conhecer-se diante de Deus.

  
I.                   DEUS E O HOMEM

Pantwn crhmatwn metron estin anqrwpoV, twn men ontwn, wV estin twn d´ouk ontwn wV ouk estin[1]
(Protágoras)

Colocar o problema da dignidade do homem numa perspectiva teológica é antes de tudo estabelecer o nexo entre ele e seu Criador, estabelecer a sua medida e seus limites buscando uma compreensão do  homem, que é magnânima, mas que nunca ultrapassa Deus, seu autor e fim último. A dignidade do homem é antes de tudo, reflexo de sua condição criatural. Nascido das mãos de Deus é coroação da criação, marcado pela contingência é eterno mendigo de Deus.
O homem tem naturalmente a capacidade de domesticar tudo a sua volta, e de buscar intervir em sua realidade no sentido de transformar e aperfeiçoar o ambiente para sua vivencia e conveniência, de forma que todas as coisas lhes são ordenadas. Imprime com isso sua marca no mundo e procura um fim ultimo para si e sua obra. Muitas vezes acomodou-se em si mesmo e, de certa forma, acabou por perder-se em suas medidas das coisas e de si mesmo.

1.1. A pergunta que grita mesmo no silêncio.

Quid est homo?

 A pergunta que acaba por nos assaltar, em dado momento da vida é exatamente sobre a essência e existência deste ser em especial que encerra em si uma fortaleza inexpugnável e uma fraqueza abissal, esta pergunta ressoa  nos corações da humanidade desde há muito tempo, vários ensaios de resposta foram propostos, uns radicais e outros simplesmente fatalistas. Uns cheios de esperança e outros dotados de um profundo non sense. Uns tentaram exaustivamente enclausurar o ser do homem em um conceito de essência, outros simplesmente preferiram somente a existência que se diz a medida do tempo.
Todas as questões propostas e discutidas sobre o homem, tem em si um “Q” de verdadeiro, mas encerram muitos aspectos que acabaram por resvalar sua imagem e, por conseguinte, a sua dignidade natural de forma a desconfigurar o verdadeiro rosto do homem, dotado de uma dignidade impar e de uma série de características que compõem o seu ser homem em plenitude, justamente por que evocam uma característica com essência inegável.
Resgatar, em nossos dias o rosto, reconstruindo o homem e captando dele sua proveniência não é trabalho de pouca monta, já que se a dignidade é grande, igualmente grande foi o estrago feito, não só por teorias laterais ou erronias, mas por uma profunda marca da práxis amoral e antinatural de nosso século, prática esta que foi forjada ao longo do tempo, como a chuva que corrói, aos poucos, a maior das rochas.
Essa pergunta, que se apresenta no silêncio das reflexões, e grita ao mundo com um espantoso e sonoro berro que não foi dado, causa a inquietude e a tranqüilidade, revela a fraqueza e a fortaleza, revela e vela o mistério do homem de hoje e de sempre.
Compreender essa pergunta é responder sem respondê-la! É, muitas vezes, saciar-se  de migalhas na busca de compreender aquilo que somos sem nunca encerrar a questão num  conceito plástico que não nos leva senão a uma decepção, já que nossa dignidade alça vôos mais altos que nossa própria mente não consegue conhecer a priori: “Ainda não se manifestou o que havemos de ser...” [2]
Compreender a dignidade do homem é muitas vezes olhar características pela impossibilidade de olhar o todo, e não se contentar com elas nem deixar-se cair na tentação de ficar somente com uma parte, mas saber que ela se encaixa, positiva ou negativamente num todo.

1.2. Caminho de resposta, caminho de esperança.

“Pois as Sagradas Escrituras ensinam que o homem foi criado ‘à imagem de Deus’, capaz de conhecer e amar seu Criador, que o constituiu senhor de todas as coisas terrenas para que as dominasse e usasse, glorificando a Deus”
(Gaudium et Spes)

Apresentar uma chave de resposta é sempre um problema em nível filosófico, pois existem tantas chaves quanto existem páginas escritas, cada uma com sua relevância própria e seu caráter próprio.
Contudo, dentro de nossa proposta teológica, nos deparamos com uma série de testemunhos da Sagrada Escritura, ou que dela decorrem que atestam claramente a via de resposta a seguir. Contudo, não é impossível conjugar, por oposição ou por corroboração às teses contidas na Sagrada Escritura. Se pegarmos o mais nihilista dos autores, veremos que capta do homem uma faceta que é de fato pertencente ao homem, mas que não diz todo o ser do homem, e que está igualmente expressa, de certa forma na Sagrada Escritura.

“Basta evocar brevemente os textos bíblicos principalmente, os dos capítulos iniciais do Gênesis, tão conhecidos, tão simples, tão ricos e que definem, ao mesmo tempo que a contingência e humildade do homem, sua nobreza de ‘imagem de Deus’...
O autor sagrado emociona e nos emociona ao escrever estas verdades essenciais: a de nossa dignidade nativa, a de nossa vocação régia, a da complementariedade dos sexos na identidade da mesma natureza diviniforme.”[3]

Entender a complexidade do homem a partir das escrituras (e daí ver o homem em sua perspectiva religiosa, isto é, enquanto relaciona-se como criatura com Deus, seu Criador) torna-se uma viagem na dignidade do homem composto da “linfa” do céu e, ao mesmo tempo, do limo da terra.
 “O senhor Deus formou o homem do barro da terra, e inspirou-lhe no rosto um sopro de vida e o homem se tornou vivente.” [4]
“Aqui se expressa não só provirmos de uma deliberação e de uma palavra do Criador, mas que também nas entranhas somos aparentados com o Cosmos, ao Jardim que Ele nos deu para cultivar. A poesia da concepção está admiravelmente traduzida naquela escultura[5] medieval que representa adão ainda emergindo, quanto ao busto, do barro moldado pelas mãos de Deus, mas já trazendo no rosto os traços de seu modelador.” [6]

Assim, estabelecido a origem do homem a partir da Sagrada Escritura como caminho de resposta à questão do homem, chegamos a algo que nos deixa boquiabertos. Um estupor diante desse mistério da criação que se impõe inegável diante de nossa inteligência. O homem em relação com o Cosmos e o homem à semelhança de Deus!
Vislumbrar esse mistério e contemplar essa dignidade é antes um ponto de partida para compreender todo o nosso “modus vivendi”, que um ponto de chegada. Este estupor antes de paralisar, aguça o nosso ser e nos atrai para tal mistério.
O homem, nesta perspectiva é sempre um ser complexo e sempre necessitado de um Ser que o dê significado. É alguém que domina, sempre em função de Outro como um fim ultimo não só de si, mas de todas as coisas que manipula, e é dominado posto que “fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti”[7] . Sua dignidade se mistifica, na sua origem divina e se desmistifica na sua compreensão ontológica e relacional com o mundo.
O caminho está traçado, resta-nos caminhar ou rejeitar essa estrada, que embora estreita, é bela justamente porque encerra nosso ser humano e nosso ser divinizado por amor de Deus que se dá e nos interpela por uma resposta.
  
II.    O HOMEM E DEUS

Por ser imagem de Deus o individuo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado por graça a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar.
(Catecismo da Igreja Católica, n. 357)

De fato a dignidade do homem provém de um lacre na alma que o identifica como criatura de Deus dotada de uma incrível virtude. Na consciência o homem descobre e decifra um código segundo o qual age, mas que não é elaborada por ele mesmo e à qual está obrigado. Tal dignidade faculta o individuo a responder livremente aos apelos de seu coração por algo de eterno e a agir segundo esta perspectiva constante em si.
É um movimento diabático, de convite e resposta,  que envolve o homem em sua totalidade e o faz agir de acordo com uma norma a qual não pode rejeitar e que lhe diz faça isso e não aquilo.

2.1. O silêncio que possibilita um grito

A consciência é uma Lei de Nosso Espírito que ultrapassa nosso espírito, nos faz imposições, significa a responsabilidade e dever, temor e esperança... É a mensageira daquele que, no mundo da natureza bem como no mundo da graça nos fala através de um véu, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo.
(Newman)

 No silencio da consciência do homem, uma palavra ecoa para o bem dele mesmo que traz como conseqüência pratica e imediata o bem de outros e que é reflexo, por própria condição de criatura, como vimos, de Deus.
Essa intimidade que circunda o homem o impulsiona ao bem moral, ratificando a própria dignidade do homem. Assim, quanto mais obedece aos ditames da reta consciência, mais o homem naturalmente se aproxima de Deus e mais reconhece Nele seu próprio rosto, desvendando os mistérios de si e de seu Sumamente Outro.
Contudo, para ouvir a vos de sua consciência é necessário um altíssimo grito! O grito do “eu mesmo”, isto é, o conhecimento de si em uma escala cada vez mais crescente. O adágio socrático “Conhece-te a ti mesmo” faz referencia perfeita a este grito do auto conhecer-se. De fato a possibilidade que nos proporciona a consciência é o grito de nós mesmos de nossa dignidade, vontade e inteligência conjugada nas ações livres.
O homem diz o seu ser no que faz, isto é, no seu agir revela Deus em sua intimidade na consciência. Tal é a implicância e exigência desta dignidade: a retidão da consciência moral.
O Concílio, fazendo eco a Pio XII, ao afirmar que: “A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a sua voz”[8] quer nos propor exatamente a dignidade da consciência que precisa conhecer-se à luz de Deus em sua intimidade única.
Assim, na busca de formular e dirigira as ações, o conhecer-se e o conhecer a Deus são duas diretrizes que incidem na mesma consciência em vista do bem. Não se pode de fato ignorar a consciência, uma vez que esta propõe um agir segundo tais parâmetros.
Desta forma a dignidade do homem, só se realiza e tem sentido na ação consciente para o bem, tanto o moral quanto o metafísico, que é proposto naturalmente. Fazer o bem  constitui o ordinário e natural na vida do homem e é exatamente esse agir que o conforma ao seu criador e o dignifica como criatura para o bem.
   
CONCLUSÃO

Nestes pequenos parágrafos nos detivemos em estabelecer o ligame entre o Deus e o homem, enquanto criador que dota a criatura de capacidade e dignidade para encontrá-lo em todas as coisas e, ao mesmo tempo, a transcendê-las rumo descoberta de si, que desemboca necessariamente num agir segundo Aquele de quem é imagem.
Depois de tantas teorias e práticas parciais de compreensão do ser do homem apresentamos um caminho de contemplação do rosto de Deus e, por conseguinte, do rosto do homem e, tendo chegado na contemplação de sua dignidade, estabelecemos o agir segundo a consciência.
É evidente que não pretendíamos esgotar a questão, ao contrário,  pretendíamos levantar questionamentos sobre um caminho seguro que nos mostrasse o homem em sua dignidade e em seu agir que a revela.
É fato que outros pontos mereceriam um olhar mais atencioso, mas que romperia com nosso escopo: o de descobrir na dignidade e auto-conhecimento do homem, um caminho para Deus.


BIBLIOGRAFIA

Fontes
Concilio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Petrópolis, Vozes, 1968.
Catecismo da Igreja Católica – Edição típica vaticana. São Paulo, Loyola, 1999.
JOÃO PAULO PP. II,  Carta encíclica Veritatis Splendor. São Paulo Paulinas, 1993.

Obras consultadas
SADA, R e MONROY. Curso de Teologia Moral,  2º Edição. Lisboa, Rei dos Livros, 1992
S. AGOSTINHO. Confissões. São Paulo, Paulus, 1984.
GOMES, C. F. Riquezas da mensagem Cristã. Rio de Janeiro, Lumem Christ, 1981.
MORA, J.F. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Martins Fontes, 2001.





[1] “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que são enquanto não são”
[2] 1Jo 3,2
[3] C.F. GOMES, Riquezas da Mensagem Cristão, p. 239.
[4] Gn 2,7
[5] Nota de D. Cirilo: H. de Lubac alude a essa escultura existente na Catedral de Chartres em “O Drama do Humanismo Ateu”, tr., Porto, pág. 15.
[6] Riquezas da Mensagem Cristão, p. 239.
[7] S. AGOSTINHO, Confissões, p. 15.
[8] Constituição Pastoral  Gaudium et Spes, n 16.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ligar e Desligar



Achei no “rescaldo” do meu arquivo digital da época de faculdade um trabalho apresentado sobre um tema interessante: “Ligar e Desligar”. Não lembro bem, mas tenho a impressão de que esse trabalho foi feito em grupo e como é de se esperar, não lembro, tampouco, quem foi o grupo.
Espero que seja boa a leitura e possa ajudar a compreender o tema.

Deus abençoe



INTRODUÇÃO

Neste trabalho, de forma concisa, apresentar-nos-á os termos “ligar” e “desligar” no seu significado bíblico e na sua compreensão e aplicação eclesial.

Partindo, em primeiro lugar, da Escritura, dar-se-á a interpretação dos textos que se referem a estes termos ou que sejam muito próximos destes. Após, tomando como base trechos do Catecismo Romano e do Catecismo da Igreja Católica, passar-se-á à compreensão e aplicação eclesial do “ligar e desligar”. Por fim, vislumbraremos, na Constituição Dogmática sobre a Igreja, “Lúmen Gentium” do Concílio Ecumênico Vaticano II, os supracitados termos e o que o concílio tem a dizer sobre eles.

I. TEXTOS BÍBLICOS RELACIONADOS AOS TERMOS E SUA EXPLICAÇÃO

Abordar-se-á agora aos textos de Mt 16,19-20; 18,18 e Jo 20,19-23, pois são os textos que tratam do assunto em questão. Haverá ainda alguma referência a outros textos que façam algumas ressonâncias a ele.

1.1. Os textos do evangelho de Mateus: Mt 16,19; 18,18

“A ti darei as chaves do Reino de Deus: o que ligares na terra ficará ligado no céu; o que desligares na terra ficara desligado no céu” [1]. “Eu vos asseguro que o que ligardes na terra ficará ligado no céu, o que desligares na terra ficará desligado no céu” [2].

Estes dois textos, segundo Gonzalo Flórez[3], se referem ao poder de perdoar pecados cometidos após o Batismo.

O primeiro texto, Mt 16,19 se insere na profissão de fé petrina e na missão confiada pelo Senhor aos apóstolos, sobretudo a Pedro, chefe deste corpo apostólico. Segundo Schoëckel, “Pedro terá as chaves de acesso ao Reino de Deus e terá o poder de julgar, perdoar e condenar, ratificado por Deus” Tal poder é dado também aos outros apóstolos, como fica claro no texto de Mt 18,18. [4]

Na comunidade judaica, os termos “ligar” e “desligar” se relacionam ao poder que tinham os principais da comunidade de separar da mesma comunidade alguns dos membros, seja por má conduta ou doutrina errônea. Primeiro, o infrator era afastado da comunidade (ligar) depois, podia cumprir uma pena – se arrependido – e, por fim, ser readmitido na comunidade (desligar). “Ligar” e “desligar” eram o máximo de poder religioso dos dirigentes. Tal procedimento foi seguido nas comunidades Judeu-Cristãs.

A Penitência vivida na Igreja nos primeiros séculos adapta-se a este modo de entender o poder de ligar e desligar: começa afastando o pecador da comunhão eucarística, para terminar por readmiti-lo à mesa do Senhor. [5] A ação de ligar manifesta a ruptura da aliança com Deus por parte do pecador, ligando-o ao domínio do diabo para que se disponha a sair desta escravidão e do seu influxo maligno. [6]

O afastamento de um membro, por um tempo, da vida litúrgica da comunidade e a sua posterior re-incorporação, mais que uma medida moral ou disciplinadora, explicita a necessidade de viver em verdade e sinceridade a união com Deus e com os irmãos. A comunhão entre os membros do Corpo de Cristo é um mistério que deve manifestar-se na vida dos Cristãos, caso em contrário, cabe à Igreja fazer com que seus filhos trilhem o caminho da reconciliação com Deus e com os irmãos.

Por fim, tais textos podem ser entendidos, tendo diante dos olhos a missão e a natureza da Igreja. O poder de “ligar” e “desligar” se refere ao governo da Igreja em todos os seus aspectos (doutrinal, disciplinar, caritativo, etc.) e também a sua intervenção em relação aos pecadores. Como a Igreja pode ser entendida também através de categorias jurídicas e disciplinares, tal interpretação também é válida. “La reconciliación de los pecadores derivaria del ejercicio de la potestad jerárquica  de la Iglesia, em cuanto atiende a la unidad y disciplina de sus membros.[7]

1.2. Os textos do evangelho segundo João (Jo 10,19-23)

“Ao entardecer desse dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam com as portas bem fechadas, por medo dos judeus. Jesus chegou, pôs-se no meio deles e lhes diz: ‘ – A paz esteja convosco! ’ dito isto mostrou-lhes as mãos e os lados. Os discípulos se alegraram ao ver o Senhor. Jesus repetiu: ‘ – A paz esteja convosco!’Como o Pai me enviou, eu vos envio’ . Disse isso, soprou sobre eles e disse-lhes: ‘ – Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; a quem os mantiverdes, ficarão mantidos”.

Schoëckel apresenta, na Bíblia do Peregrino, em comentário muito elucidativo a respeito do texto:

“O poder de perdoar ou imputar pecados soa como variante de Mt 18,18 e Mt 16,19. A expressão polar (os dois termos) pode significar totalidade (cf. Is 22,22) o poder simbolizado pelo controle da porta ‘Eu lhe porei no ombro a chave do palácio de Davi: o que ele abrir ninguém fechará, o que ele fechar ninguém abrirá)’ os verbos estão na passiva teológica, ‘ficam perdoados’ (por Deus). É um poder que discerne e julga que reconcilia ou exclui, que se dá em primeiro lugar aos discípulos, e que eles exercerão de formas diversas (aqui entram as interpretação e explicação posteriores): admitindo ou não o batismo; na penitência também sacramental (embora imputar ou reter pecados não seja ato sacramental, mas sim exercício de poder).”

A saudação do Senhor[8] aos discípulos virá a por fim no medo humano diante do sobrenatural. A paz é fruto da presença do Ressuscitado. O envio dos discípulos análogo ao seu próprio envio, da parte do Pai, se relaciona com a ação do Espírito Santo na Igreja. Jesus sopra sobre os discípulos e lhes o Espírito Santo, que aparece como dom de consolação, congregação e assistência no cumprimento da missão dos crentes e discípulos de Jesus. “Todo lo que precede em la discripcion de esta primera aparición de Jesús a sus discipulos no viene sino a resaltar la importancia del ‘logion’ final: ‘A quienes perdonéis los pecados, lês quedam perdonados; a quienes se los retengas (o imputeis), les quedan retenidos (o imputados)[9]

O perdão dos pecados é apresentado como um poder dado por Jesus para ser exercido na e pela Igreja e não como um mandado de anúncio. Tal poder no Novo Testamento é uma graça fruto da redenção, presente de Cristo para a Igreja. Os discípulos tornam-se “portadores del perdón que El mismo ha conquistado y comunicado [10]”.

Quando Jesus diz “... a quem mantiverdes (retiverdes) ficarão mantidos (retidos) [11]”, fica mais explicito que ele deu aos seus discípulos poder sobre o perdão dos pecados. O verbo reter no Novo Testamento significa sujeitar, agarrar ou apoderar-se de alguém; no caso ele apareceu contraposto a perdoar, com o sentido de imputar ou de reter.
Tal texto é muito próximo do texto de Mt. Pode-se dizer que, embora provenientes de tradições diferentes, há uma interdependência entre eles que tornará mais e melhor compreendido esse poder de ligar/ reter e desligar/ perdoar.

II. “LIGAR” E “DESLIGAR” NO CATECISMO ROMANO E NO CATECISMO ATUAL.

Além da visão bíblica sobre os termos “ligar” e “desligar” e a sua compreensão na Igreja, agora, passa-se a tratar desses termos e seus respectivos significados para a Igreja enquanto são apresentados pelos catecismos, seja o Catecismo Romano (pós-concílio tridentino) seja o Catecismo da Igreja Católica (pós-concílio Vaticano II). Tal abordagem permitirá uma compreensão pastoral acerca do assunto em questão.

2.1. “Ligar” e “desligar” no Catecismo Romano

No Catecismo Romano, os termos “ligar” e “desligar” encontram-se na segunda parte, que trata dos sacramentos, no capítulo quinto, destinado ao sacramento da Penitência, no parágrafo onze. O fato de os termos situarem-se no tratado dos sacramentos, em especial o da penitência, mostra a compreensão da Igreja, sobretudo (e não exclusivamente) no contexto da absolvição ou não dos pecados. Diz o Catecismo Romano:

“... nos atos e palavras do sacerdote reconhecemos a misericórdia de Deus, que perdoa esses pecados. Isto é, que provam, absolutamente a palavra do Salvador: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos céus... Tudo o que desligares na terra, será desligado também no céu’”[12]

Portanto, a Igreja consolida-se, após Trento, na compreensão e na vivência do sacramento da Penitência como a atualização e realização eclesial das palavras do Senhor a Pedro. A interpretação de Mt 16,19 e 18,18 juntamente com a de Jo 10, 19-23 fundamenta o sacramento da Penitência e o seu caráter de “reunir” o pecador a Deus e à Igreja ou de mantê-lo desunido deles caso não os procure ou os procure sem arrependimento necessário.

 2.2. “Ligar” e “desligar” no catecismo da Igreja Católica

O atual catecismo apresenta os termos, ou o tema do poder dito “das chaves” em dois momentos diferentes: O primeiro, na primeira parte – a profissão de fé Cristã: o Capítulo III – Creio no Espírito Santo; Artigo X – creio no perdão dos pecados; item II – o Poder das Chaves. O segundo momento, na Segunda Parte – A celebração do mistério Cristão; Segunda Seção – Os sete sacramentos da Igreja; No capítulo II – Os sacramentos de cura; no Artigo IV – O sacramento da Penitência e da Reconciliação; item VI – O sacramento da penitência e da reconciliação.

Nessas duas ocorrências, quer “ligar” e “desligar”, quer “o poder das Chaves”, estão inseridos no horizonte do perdão dos pecados e da reconciliação do Cristão pecador com Deus e com a Igreja. Em primeiro lugar, enfatiza-se o Cristo que confere aos apóstolos um poder e uma missão de perdoar os pecados:

“Depois da ressurreição, Cristo enviou seus Apóstolos para anunciar a todas as nações o arrependimento em seu Nome em vista da remissão dos pecados (Lc 24, 47). Este ‘ministério da reconciliação’ (2Cor 5,18), os Apóstolos e seus sucessores não o exercem somente anunciando aos homens o perdão de Deus merecido para nós por Cristo e chamando-os à conversão e à fé, mas também comunicando-lhes a remissão dos pecados pelo Batismo e reconciliando-os com Deus e com a Igreja graças ao poder das chaves recebido de Cristo.” [13]

Depois se acentua mais a dimensão eclesial desse perdão:

“Conferindo aos Apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa exprime-se principalmente no solene palavra de Cristo a Simão Pedro: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus’ (Mt 16,19)...
As palavras “ligar” e “desligar” significam: aquele que excluirdes da nossa comunhão, será excluído da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo à nossa comunhão, Deus o acolherá também na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus” [14]

Estes dois textos, que dispensam comentários, deixam claro, portanto que a Igreja encara quer o “poder das Chaves”, quer o poder de “ligar” e “desligar” como dons de Cristo para os seus com o fim de edificar a Igreja através do perdão dos pecados, readmitindo os fieis na comunhão com a comunidade e com Deus mesmo.
  
 III. “LIGAR” E “DESLIGAR” NA LG 22

A Constituição Dogmática sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II; ao tratar da ordem dos bispos e da sua participação no magistério e no regime pastoral dos Apóstolos, e união com o sucessor de Pedro; acaba por tocar o tema do “poder das chaves” e dos termos “ligar” e “desligar”.

“...a Ordem dos Bispos, que sucede ao colégio apostólico no magistério e no regime pastoral, e na qual perdura continuamente o corpo apostólico em união com a sua cabeça, o Romano Pontífice, e nunca sem ele, é também detentora do poder supremo e pleno sobre a Igreja universal, mas este poder não pode ser exercido senão com o consentimento do Pontífice Romano. Só a Pedro o Senhor pôs como rocha e portador das chaves da Igreja (cf. Mt 16,18s) e constituiu pastor de toda a sua grei (cf. Jo 21,15ss); mas o oficio que deu a Pedro de ligar e desligar (cf. Mt 16,19), é sabido que o deu também ao colégio dos apóstolos, unido com sua cabeça (cf. Mt 18,18;28,16-20).[15]

O Concílio afirma que as “chaves” foram confiadas a Pedro, isto é, que o papa é o detentor do poder pleno e supremo sobre a Igreja. As “chaves”, aqui, são lidas como autoridade máxima, submetida à Palavra, sobre toda a Igreja. O oficio dado a Pedro de “ligar” e “desligar” também é lido como autoridade e pastoreio sobre toda a Igreja; mas sobre este ofício é dito que também foi confiado aos demais apóstolos e, assim, também aos bispos, com a condição da comunhão com o papa, cabeça do colégio episcopal.

Aqui, os termos “ligar” e “desligar,” são empregados, não negando seu sentido de exclusão e re-inclusão na comunhão, ou aquele de perdoar ou reter os pecados, mas no sentido mais amplo que tem o ministério dos apóstolos na Igreja. Os poderes de excluir e de re-incluir na comunhão e de perdoar ou de reter os pecados estão contidos naquele mais amplo, confiado pelo Senhor aos seus apóstolos e aos seus sucessores.

“Ligar” e “desligar”, na LG 22, indicam, pois, o poder ou a capacidade dos apóstolos e dos seus sucessores, de administrar na terra os bens do céu e de agir na terra em nome Daquele que está no céu. Os sucessores dos apóstolos são assistidos e confirmados em seu pastoreio, ensino e santificação do povo de Deus pelo próprio Deus, desde que o façam em comunhão com o sucessor de Pedro, inclusive no que concerne ao sacramento da Penitência.

Portanto, “ligar” e “desligar” aparecem no Concílio Vaticano II indicando, sem excluir o seu sentido para o sacramento da penitência, a autoridade e o poder apostólico do papa e dos bispos (autoridade, poder, concedidos a eles, por Deus, em Cristo, no Espírito Santo, através da sucessão apostólica) para o serviço de santificação, ensino e pastoreio do povo de Deus.

CONCLUSÃO

      Ao fim deste trabalho, fica patente que os termos “ligar” e “desligar”, contidos em Mt 16, 19 e em Mt 18, 18 podem ser interpretados basicamente de duas formas:

      A primeira interpreta os supracitados termos referindo-os a Jo 20, 23, ao perdão e à retenção dos pecados, poder que o Ressuscitado dá aos doze e que é paralelo ao significado de “ligar” e “desligar”, pois esses termos se referiam à exclusão e re-inclusão de membros das comunidades judaicas que tivessem cometido alguma falta grave. Essa primeira interpretação ligou os termos em questão ao contexto penitencial, pois eles provêm daí, e à prática da penitência, consolidando-se, por fim, na Confissão sacramental com absolvição dos pecados. Os Santos Padres e a tradição catequética e doutrinal da Igreja reforçam essa via de compreensão.

      A segunda, interpreta “ligar” e “desligar” no contexto do poder de governo dado pelo Senhor a Pedro em Mt 16,18 e as Doze em Mt 18,18. Tal interpretação enfoca o carisma que os apóstolos presididos por Pedro receberam para ensinar a verdadeira doutrina, santificar o povo e guiá-lo para a salvação; poder que foi transmitido aos bispos e ao papa. Eles, com seu ministério agem em nome e com o poder de Deus para o bem da Igreja e Deus possibilita e confirma tal ministério: o que é ligado na terra é ligado no céu.

Essas duas interpretações não se contrapõem, mas se completam. De fato, a administração do sacramento da penitência e o perdão dos pecados próprio deste sacramento são realidades incluídas naquela maior e mais ampla do ministério dos bispos e do papa e de sua mediação para a Igreja.

Portanto, “ligar” e “desligar” são termos que se referem à mediação das realidades salvíficas de Cristo para a Igreja, no ministério dos bispos, sucessores dos apóstolos unidos ao papa; sendo também referentes ao perdão dos pecados, que é parte desta mediação salvífica e expressão mais eloqüente dela. 


[1] Mt 16,19.
[2] Mt 18,18.
[3] G. FLÓREZ, Penitencia y unción de enfermos, Madrid, 2001, p. 66.
[4] A Bíblia do Peregrino, São Paulo, 2002. Comentário ao texto de Mt 18,18.
[5] Ibidem, p 67.
[6] Ibid, p.70.
[7] Ibid, pp. 71-72.
[8] Ibid. p.73.
[9] Ibid, p. 74.
[10] Ibid, p. 75
[11] Jo 20,23.
[12] CATECISMO ROMANO, Petrópolis, (sem data) p. 318.
[13] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, Petrópolis, 1993, n. 981
[14] Ibid, nn. 1444-45.
[15] CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Lumen Gentium”, Petrópolis, 1968  n. 22.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Três moedas para um grande tesouro

Três moedas para um grande tesouro
Fiz uma pregação no Cerco de Jericó da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no Centro de Rio Bonito, quando celebrei uma das missas que achei interessante. Para partilhá-la com os amigos que nos acompanham, resolvi postá-la em meu blog quebrando o jejum de alguns meses sem novos artigos. A passagem do evangelho que comento é Mt 13, 44-46. Separei três moedas para comprarmos a grande pérola à qual Jesus compara o Céu.

Agradeço novamente o talento do amigo Luan Xavier por nos conduzir à oração com sua canção! 

Que Deus nos guarde!
Com minha bênção!

sábado, 14 de maio de 2011

Você no caminho de Emaús!

No ultimo domingo, dia sete de maio, dias das mães e aniversário da cidade de Rio Bonito, RJ, celebramos, numa missa campal para mais de três mil pessoas, o Terceiro Domingo da Páscoa. Estavam reunidas as três paróquias de nosso município sob a presidência do Pe. Eduardo Braga, pároco de Nossa Senhora da Conceição no Centro de Rio Bonito. Concelebrávamos Pe. Marcos André e eu, que tive a honra de pregar a homilia.

Meditamos no evangelho do dia, os Discípulos de Emaús, por isso dei o título desta homilia de “Você no caminho de Emaús” e gostaria de trazer a gravação para que possamos meditar juntos.
Agradeço à gentileza de Luan Xavier que nos emprestou sua voz  e à comunidade Servir que nos auxiliou com sua técnica musical.

Quero agradecer ainda a homenagem do leitor que nos enviou a foto montagem que publicamos. Obrigado pelo carinho.


Boa meditação!

http://www.4shared.com/audio/-UupII5F/Voc_no_caminho_de_Emas.html?