Homilia da missa de 06/10/2013 que gostaria de partilhar com os amigos.
http://www.4shared.com/mp3/TitjxE2Q/seis_passos_para_viver_a_fe.html?
Deus seja bendito nos seus dons!
Padre Fabiano de Carvalho Silva
domingo, 6 de outubro de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
Homilia
Amigos,
Achei essa homilia nos arquivos do meu antigo computador. Não ouvi toda e não lembro de quando é (provavelmente é de páscoa ou pentecostes, mas não sei muito bem). Espero que gostem!
Pe. Fabiano de Carvalho
http://www.4shared.com/mp3/mZfcQnTK/Pe_fabiano_2.html?
Achei essa homilia nos arquivos do meu antigo computador. Não ouvi toda e não lembro de quando é (provavelmente é de páscoa ou pentecostes, mas não sei muito bem). Espero que gostem!
Pe. Fabiano de Carvalho
http://www.4shared.com/mp3/mZfcQnTK/Pe_fabiano_2.html?
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Mensagens aos Legionários de Boa Esperança
Caríssimos oficiais da Cúria Imaculada Conceição,
Pelas numerosas atividades que nos ocupam os finais
de semana, nossa presença tem se tornado rara neste momento em que vós vos
reunis. Entretanto, a fim de não deixar passar esta ocasião decidi escrever-vos
estas reflexões com as quais comunico algum fruto espiritual ao mesmo tempo em
que reforço minha comunhão com a Cúria da Legião de Maria e os presidia de
nossa paróquia.
No dia primeiro de maio passado, celebramos o dia de
São José Operário, título com o qual se reconhece no, Esposo da Virgem, as
virtudes laboriosas que o impeliram no ofício de ser o chefe da Sagrada
Família. Bem se sabe pelas Sagradas Escrituras que São José era carpinteiro
(cf. Mt 13,55) e que ensinou a Jesus Cristo sua arte (cf. Mc 6,3).
Se considerarmos bem, o trabalho que exercemos nos
aproxima de Deus. Pelo trabalho da Criação, Deus dá a vida a todas as coisas e,
pelo trabalho que exercemos, transformamos o mundo e as coisas criadas por Deus
para aperfeiçoar e cuidar de nossas vidas. Na experiência de amor por Deus e
pela sagrada família, São José se torna para nós um exemplo de quem, diante de
Deus, trabalha para o sustento da Sagrada Família, transformando, em sua
carpintaria, as horas de esforço em louvor ao Pai.
Contudo, o trabalho de São José não só estava em
ordem do sustento material da Sagrada Família, mas também estava em ordem do sustento
espiritual dela e de toda a Igreja. Um trabalho espiritual que poderíamos considerar
em três características: Escuta obediente, Zelo puríssimo e Comunhão amorosa.
I. Escuta obediente
“José, seu esposo,
que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.
Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe
disse: José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela
foi concebido vem do Espírito Santo... Despertando, José fez como o anjo do
Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa”. (Mt 1,19-20.24)
Toda obediência procede de uma experiência de escuta
da Palavra de Deus que toca o coração do homem e o muda, convertendo-o para o
céu. O trabalho espiritual de São José partiu da escuda da Palavra de Deus
trazida pelo mensageiro do Senhor que lhe apareceu em sonho. Disposto a seguir seus próprios projetos,
teve seus planos mudados por aquela manifestação de Deus.
A escuta obediente levou José a mudar seu interior para
adequar-se aos projetos de Deus. Poderíamos dizer, sem sombra de dúvidas, que o
mesmo Espírito que fecundou o puríssimo ventre de Maria também fecundou a
vontade puríssima de São José para que ele obedecesse à vontade de Deus.
Também o Legionário deve estar atento à Palavra de
Deus que se lhe dirige todos os dias para atingir a obediência. Muitas vezes
esta palavra vem mediada por mensageiros que Deus lhes provê para apontar o
caminho da obediência e fazer de sua própria vontade a vontade de Deus.
II. Zelo Puríssimo
“Depois de sua
partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma
o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque
Herodes vai procurar o menino para o matar. José levantou-se durante a noite,
tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito” (Mt 2,13-14).
São José é o guarda dos dois maiores presentes de
Deus para a Igreja e, por ela, para a humanidade: Jesus e Maria. E para cuidar
deles não mediu seus esforços. Durante a noite levantou-se para leva-los para
longe das ameaças do mal. O zelo que José tinha pela Sagrada Família o impedirá
de pensar em seu próprio conforto ou em horas cômodas ou incomodas para
executar aquilo que Deus lhe mandou. Sabia que era o melhor para os Tesouros de
que era guardião fazer como Deus mandara e por isso o fez!
Se o Legionário não aprender com São José a não
medir seus esforços por zelar por Jesus e Maria não cumprirá seu papel de
cristão. Dia e noite deve cuidar para que tais santas presenças não se apaguem no
mundo e, por isso, deve trazer em seu coração o prestígio por Jesus e Maria
zelando para que suas ações não expulsem de seus corações tão doces presenças,
sob pena de terem sua missão frustrada. É necessário, pois, um zelo puríssimo
para proteger a presença de Cristo e da Virgem Maria em nossas vidas, pois o
mal, ainda hoje, deseja mata-los em nós.
III. Homem de comunhão amorosa
“Despertando, José
fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa”.
(Mt 1,24)
São José, ao receber a Virgem Maria em sua casa
também recebeu Jesus em sua vida e por isso estabeleceu uma verdadeira
comunidade de comunhão e amor. A comunhão é a mútua acolhida entre as pessoas e
o amor é o cuidado gerado quando a comunhão é real: acolhida e cuidado,
portanto, são duas características através das quais podemos reconhecer a
comunhão e o amor.
Não somos também chamados a essa dupla realidade de
comunhão e amor, acolhida e cuidado? Cada Legionário deve encontrar nestas
virtudes do Santo Nutrício a inspiração
para sua própria vida espiritual na qual não se pode abrir mão da acolhida de
Maria e, por ela, de Jesus em nossas almas.
Assim, queridos
Legionários, vemos como São José nos é inspiração para que busquemos também nós
a experiência de Escuta obediente, Zelo
puríssimo e Comunhão amorosa. Não é sem motivos que o vosso manual
recomenda a estima a São José dizendo: “Para o seu amor se mostrar poderoso em
cada um de nós, é necessário que o nosso procedimento para com ele reflita a
compreensão do intenso afeto que nos consagra. Jesus e Maria, agradecidos a
José pelos seus carinhos e trabalhos, traziam-no sempre no coração. Procedam do
mesmo modo os legionários” (Manual, p. 178).
quinta-feira, 28 de março de 2013
Sermão das Sete Palavras
Sermão das Sete Palavras
Introdução
As sete últimas
palavras de Cristo na cruz, para rasgar o véu do templo (cf. Mt 27,51), e nos
colocar diante do Pai, nos transmitem um testemunho que passa pelo caminho da
dor, do abandono, das impossibilidades, da misericórdia e do perdão. No alto da
cruz está um homem que sofre nossas dores e nelas – nas dores mais agudas da
alma humana – se faz amigo das horas de solidão, das dificuldades dos apertos e
sofrimentos.
Muitas e
muitas vezes nos sentimos perdidos, solitários, abandonados dentro de nossa
própria casa, de nosso trabalho e de nossa vida. Um abandono que nos leva a
tristeza de não enxergar esperanças. Jesus, na solitária cruz, não deixa que a
amargura lhe tome o coração, mas, ao contrário, mesmo sentido as dores de sua
Paixão nos abre um caminho para fora de nosso isolamento.
Um caminho que
passa do interior para o outro, que passa da solidão para o encontro, da dor
para a alegria e nos ensina que toda a redenção começa no coração do homem e o
leva até o Pai. Jesus saiu de sua solidão para um encontro com seu Pai e neste
encontro nos conduziu consigo até o alto.
E nós? Que
papel nos cabe neste caminho? Quais os passos que devemos dar? Se percebermos,
temos cada vez menos conseguido lidar com várias coisas que nos afligem: os
homens cada vez menos conseguem lidar com suas questões interiores, com suas
dores, com suas vidas; as mulheres cada vez mais audaciosas nos seu ambientes
de trabalho são cada vez menos donas de seu interior e vez por outra se
submetem a situações que as colocam num vale de solidão; os jovens, cada vez
mais ávidos de uma liberdade sempre acabam se entregando à ciranda da vida que
não os deixam senão com uma imensa culpa e, mergulhados na tristeza de seus
atos, vivem uma vida que carece de sentido e expectativas.
Essa é a dor
da nossa cruz: a incompreensão, o abandono, a pobreza interior que amesquinha o
ser humano, a dolorosa cruz que nos marca a vida interior...
É nesse
momento que Jesus, no alto da Cruz nos da sete passos para sair das agitações
interiores para uma liberdade que nos permite um encontro com Deus e nele
descobrirmos um amigo interior que nos faz sair da solidão para a Amizade.
1ª PALAVRA: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”.
Não sabemos o
que fazemos? Será que poderíamos tomar para nós essa palavra? Quando nossos
atos não correspondem ao amor a que nos propusemos, quando nossa hipocrisia não
nos permite a auto crítica que nos tempera em nossos arrazoados, muitas vezes
cheios das melhores intenções, mas eivados de arrogância e tirania? À primeira vista o modo como nos
cobramos, rígidos e implacáveis, não nos permite ser receptores deste perdão.
Mas ali no
cenário do calvário as palavras dirigidas aos algozes de Cristo ressoam por
toda a terra em todo tempo incluindo a cada um de nós na história, até hoje!
Se nossa
escola de vida nos permite a dureza, a radicalidade, a implacabilidade conosco
e com os outros, a escola da cruz oferece a lição do perdão. Não somos
perdoados pelo quanto merecemos – nós, por nós mesmos não o merecemos. Somos
perdoados pelo quanto Cristo nos amou e se é esse amor a medida do perdão,
Cristo, que ama sem limites oferece um perdão que é infinito.
Por isso
também nós devemos nos perdoar. Quero dizer que cada um deve perdoar a si mesmo
antes de tentar perdoar aos outros. Você pode hoje olhar para dentro de si
mesmo, como quem afrouxa o nó da forca do seu próprio juízo e sentir-se
presente diante de um juiz mais misericordioso que nós mesmos.
Quando nos
aproximamos de Jesus Crucificado para ouvir de seus lábios, sôfregos pelas
dores que o tocam o corpo e a alma as palavras de perdão, devemos lembrar que
somos, enquanto seres humanos, imperfeitos e limitados e, se isso nos causar a
dor, temos alguém que, como um companheiro de viagem, um amigo, nos fez
perceber que nossa perfeição esta exatamente centrada na capacidade de sermos
melhores a cada dia e não de nos reconhecermos prontos e acabados... um homem
que não tem espaços abertos para o crescimento é um homem morto, mas aquele que
na solidão de seus sofrimentos consegue encontrar uma porta aberta para ser
melhor, isto é, para transcender... um amigo foi a nossa frente e nos ensinou a
não parar na cruz da auto punição, mas ir até a ressurreição de nossa
consciência: Pai, perdoai-nos por que não sabemos que o amor é melhor do que a
culpa.
2ª PALAVRA: “Em verdade te digo:
hoje estarás comigo no Paraíso”
Uma promessa?
Não, amigos não fazem promessas! Amigos realizam! Jesus ao olhar para o ladrão
não o escolhe por ter sido uma pessoa com uma trajetória de vida sem erros, não
o elege por ser irrepreensível, não o faz amigo por ser melhor do que todos os
outros. Esses critérios não são os critérios do Cristo, mas os nossos.
Somos assim
nas nossas escolhas: vemos primeiro o exterior, vemos primeiro os benefícios,
escolhemos primeiramente aqueles que nos possibilitam quaisquer crescimentos. Mas
quando fazemos isso não nos colocamos abaixo? Quando discriminamos alguém, o
colocamos em grau inferior, mas quando supervalorizamos alguém, NOS COLOCAMOS
em grau inferior.
Jesus da o
maior dom, o da felicidade, isto é, o céu, a um ladrão!
Também não
reside a bondade de Cristo no fato de ser o seu “novo amigo” um ladrão. Não é o
fato de ser minoria que faz de alguém privilegiado. No mundo de hoje, vemos a
ditadura das minorias que viram no fato de serem, de algum modo, discriminados
um direito a, como quem paga com a mesma moeda, discriminar. O valor do ser
humano reside nele mesmo enquanto tem algo de divino em si.
Jesus da o
maior dom, o da felicidade, isto é, o céu, a alguém que se sabia limitado e
culpado, mas que acreditou na misericórdia inocente e ilimitada de Deus.
Também nós nos
encontramos hoje, crucificados pelo tempo presente: nossos conflitos interiores
são nossos algozes; nossa solidão, o açoites; nossa impaciência, os cravos e
nossas culpas a lança que perfura o nosso peito com sentimentos de dor e
rejeição por nós mesmos e por outros.
Mas também
hoje estas palavras nos atraem para Cristo, como ele mesmo havia prometido (Cf.
Jo 12, 20-33). Mesmo neste mundo, ao encontrarmos Jesus, nosso amigo
interior que está sempre conosco, podemos viver à porta do paraíso, como diz o
salmista: “Verdadeiramente, um dia em vossos átrios
vale mais que milhares fora deles. Prefiro deter-me no limiar da casa de meu
Deus a morar nas tendas dos pecadores”. (Sl 83,11).
Só alguém que
se sente perdoado, pode perdoar e por isso, a comunidade de amigos é a Igreja do
Perdão onde se poder oferecer e receber a graça da salvação todos os dias no
próximo, na palavra e no pão eucarístico sinal de reconciliação com Deus.
A palavra que
ouvimos de Cristo nos dá a graça de estar no limiar do céu, como comunidade
eclesial, viver na alegria do perdão e da amizade.
3ª PALAVRA: "Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua
Mãe!"
Neste caminho
de salvação que nos tira do egoísmo e nos coloca na fraternidade e na amizade,
um rosto nos é dado: Maria, a Virgem do Amor Perfeito. Sofrendo no coração e na
alma o que Cristo sofria no seu corpo, Maria é a primeira aluna da escola do
amor.
A dor de ver
seu filho não a torna avessa ao mundo, mas o acolhe com amor como seus filhos,
no Cristo. Ai está tua mãe, pronta a te acolher, não deverias tu também, de
prontidão acolhe-la? E acolhendo-a como Mãe do Amor Perfeito, acolher também a
todos os teus irmãos?
Em Maria o
exemplo do amor que supera a dor, o amor que supera a mágoa, o amor que acolhe!
Filho, eu te
digo hoje, como Cristo no alto da cruz: Eis ai o exemplo de tua mãe!
4ª PALAVRA: "Elói, Elói, lammá sabactáni? - Meus Deus, meus Deus, por
que me abandonastes?"
Nos abandonos
do teu coração um eco destas palavras deve trazer a tua vida um sopro de
esperança. Quando a solidão é o ultimo grito da dor que nos fez sentir
abandonados, Cristo é nosso companheiro. Ele sofre em nós.
A ressurreição
é um trabalho de dentro para fora, feito a duas mãos: a mão de Cristo, que nos
ajuda a plantar nosso jardim interior e a tua própria mão, já que você é o
único capaz de mudar tu história. Cristo está te chamando a se abandonar na
amizade dele para que nos teus abandonos interiores ele seja o teu amigo,
aquele que te acompanha.
5ª PALAVRA: "Tenho Sede!"
Que sede temos
hoje? Sede do mundo? Mas se buscamos água em cisterna rachadas (Jr 2, 13) só
encontraremos a aridez da vida. Bem disse o Senhor à Samaritana “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que
beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a
ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna”. (Jo 4,13-14)
No episódio da
Samaritana, bem como no alto da cruz, Jesus mostra a sede pela salvação de seus
amigos nos ensinando a ter uma dupla sede: a da salvação de nossos amigos, isto
é da elevação de cada um deles até a felicidade – e para isso devemos nos
esforçar para que sejam cada vez melhores e não nos acostumar com as
mediocridades mundanas; e a sede de Deus, por que nossa alma estará sempre
inquieta até repousar em Cristo (Santo Agostinho, Confissões).
Na sede de
Cristo pela salvação de seus amigos, deve também estar a sede de felicidade que
nos toca, por que ser feliz é estar com Deus, devemos querer para todos a mesma
felicidade que livra da culpa, que nos tira do isolamento, que nos leva ao
encontro com Deus e com nosso próximo. Pelo caminho da amizade encontrar a
santidade e nela o dom da felicidade.
6ª PALAVRA: "Tudo está consumado!"
Depois de
passarmos pelas dores de nossas próprias culpas aprendendo a perdoar nossas
faltas e as dos outros. Depois de recuperar o limiar da esperança e buscar a
força da solidariedade, veremos consumada uma Igreja de Fiéis. Uma verdadeira
Igreja de amigos que, chamados desde toda a eternidade, encontram-se na
fraternidade e no amor a finalidade para a qual Deus nos congregou como amigo:
testemunhar aqui a possibilidade do céu pelo amor a si mesmo, ao Próximo e a Deus.
Um caminho que
não se faz sozinho. Um caminho que se faz em comunidade: Eu, o Cristo e meu
Irmão... nesta amizade Deus se revela próximo e salvador.
7ª PALAVRA: "Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!"
Só tuas mãos
senhor, chagadas e abertas, podem nos livrar do egoísmo e da dor. Só tuas mãos,
Senhor, podem nos livrar da incredulidade pela qual o mundo passa. Colocamos
nossa vida em tuas mãos por que não há lugar melhor para nós e assim, por tuas
mãos chagadas, em cada missa, em cada comunhão, como amigos e companheiros de
caminhadas somos entregues ao Pai.
No teu
Espírito, o nosso espírito. Na tua santidade a nossa comunidade para que
recebamos um novo Pentecostes de amor que nos reanime a fé.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
As cinzas da humildade redentora
As cinzas da humildade redentora
Nesta noite, ao serem impostas as cinzas da penitência sobre nossas
cabeças, nos recordaremos, às palavras do ministro, que somos pó e ao pó
retornaremos. A expressão é retirada do livro de Gn 3,9 e evoca o ambiente do
castigo depois do pecado “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que
voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Gn
3,19). As palavras das consequências do pecado de nossos primeiros pais ainda
ressoam doloridas nos nossos corações após cada pecado que cometemos como se
fossem um tenebroso tema musical que acompanha a cena de nossa história
pessoal. Entretanto, do mesmo castigo nasce a redenção.
A expressão usada em Gn para dizer pó
da terra é ’Adamah (hm'd'a). Sua sonoridade nos faz lembrar imediatamente a
palavra Adam (~d'a') e nos remete àquela
proximidade que temos com a terra de que fomos feitos: “Então Iahweh Deus modelou
o homem com o pó do solo, insuflou em suas narinas um sopro de vida e o homem
se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). Aparece no texto de Gn o ciclo de vida e
morte que toca a todo ser humano: do pó nasce e ao pó retorna. Entretanto, algo
no ser humano é diferente, ele recebe um sopro de vida que o faz vivente.
O ser humano é um mistério, um sinal de Deus que carrega em si dois
extremos, a fragilidade do pó da terra e as alturas do sopro celeste. De certo
modo, está relacionado à terra e deve cuidar dela, como deve cuidar de si mesmo
e, por extensão dos seus semelhantes e por outro lado almeja o espiritual, o
celeste, e deve busca-lo como concretização de seus maiores desejos e de si mesmo,
como único modo de sua própria realização.
Se o tenebroso tema do pecado rasga a alma e tira da vida a suave canção da
felicidade, Deus não quis nos deixar condenados às consequências lancinantes da
morte, mas deseja, a cada dia – estejamos onde estivermos – trazer-nos de volta
a experiência de amor consigo. Por isso enviou ao mundo o seu maior dom de
Amor, Jesus.
É no Verbo que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14) que
encontramos o caminho de volta para Deus. Não o caminho de volta para o paraíso
edênico, mas um caminho de volta para o Amor do Pai que se manifestou no seu Filho
e nos toca por meio do Espírito, o caminho para a intimidade com Deus, para uma
vida espiritual no Novo Adão (cf. 1Cor 15,45).
O caminho que Cristo nos deixou fica mais claro e evidente quando vivemos
bem a Quaresma e a Semana Santa como verdadeiros peregrinos de volta para o
Amor: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com
Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem,
humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por
isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos
os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos
infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é
Senhor.” (Fl 2, 6-11).
Portanto, o caminho de Cristo é o da humildade, reconhecendo nossa condição
de pó. Mas não um reconhecimento revoltado, rebelde como o daqueles que não
suportam a si mesmos. Essa rebeldia é obra do velho pecado que nos fez egoístas
e soberbos. Ao contrário, o caminho encontra-se em reconhecer que em nossa
humilde posição está a condição para nossa salvação. Se Cristo não se apegou ao
seu ser, por que nós nos apegaríamos ao nosso não ser?
Deus ensinou à Doutora da Igreja, Santa Catarina de Sena, que a humildade é
o solo fértil em que as raízes de nossas vidas se lançarão com profundidade no
autoconhecimento que nos levará a contemplar a maravilha do que Deus é em nós.
É exatamente por aí que São Paulo nos guia ao dizer que quando somos fracos é
que se manifesta a fortaleza de Cristo em nós. (Cf. 2 Cor 12, 10): “o que é
fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes;” (1Cor 1,27)
“Mas qual é a estrada? [disse Deus à Santa Catarina] Vou dizê-lo. Toda
perfeição e virtude procede da caridade; a caridade alimenta-se da humildade; a
humildade nasce do auto- conhecimento e da vitória sobre o egoísmo da
sensualidade. Para se atingir o amor filial é necessário, pois perseverar na
cela do autoconhecimento. Nesta cela o homem conhecerá o Meu perdão através do
Sangue de Cristo, atrairá sobre si pelo amor, a Minha caridade, procurará destruir
em si toda má vontade espiritual e temporal...”.
Testemunho disso nos deu o Papa Bento XVI, ao resignar o trono de Pedro: “Converter-se
significa não fechar-se na busca do próprio sucesso, do próprio prestígio, da
sua própria posição, mas fazer, verdadeiramente, que cada dia, nas pequenas
coisas, a verdade, a fé em Deus e o amor se tornem as coisas mais importantes”.
Em outras palavras enclausurar-se no próprio egoísmo seria fruto do orgulho que
levaria de novo o ser humano para longe de Deus, para o pecado.
Abrir mão dos próprios orgulhos e deixar-se nas mãos de Deus é um ponto
árduo para o ser humano que está envolvido pelo pecado, mas é exatamente as
cinzas que receberemos e que nos lembrarão que somos pó que nos farão encontrar
a vontade de Deus e, nela, o Amor que nos dá alegria.
Assim, tornam-se gestos sinceros de quem deseja, pela humildade, chegar ao
Amor: a esmola (o desapego do dinheiro, do poder), a oração (desapego de si
mesmo, de suas próprias forças) e o jejum (desapego dos próprios desejos e
instintos).
O ser humano do paraíso está contente por que ao mesmo tempo em que cuida
da terra, cuidando de si, passeia de mãos dadas com Deus. O ser humano do
pecado está entristecido pelo egoísmo que traz em sim, mas o ser humano da Igreja,
que superou o pecado pela humildade, que encontrou nas suas cinzas o motivo de
sua salvação, é Feliz por que não só esta de mãos dadas com Deus, mas participa
do Amor da Trindade e leva esse mesmo amor a toda a Terra!
Do pó viemos e ao pó retornaremos, mas é do pó da humildade que nós
ressuscitaremos! É esse o renascer do ser humano pelo caminho de Cristo, o da
humildade que nos ensina saber quem somos e o que Cristo é em nós.
Pe. Fabiano de Carvalho Silva
Pároco
Nossa Senhora da Conceição – Boa Esperança
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