“Respondeu-lhe
o Senhor: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas;
no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a melhor parte, que lhe
não será tirada.”
(Lc 10,41)
Escolha e escolhas num labirinto de opções
Um site: milhões de opções a um clique; Uma
TV: milhões de canais à sua escolha; uma vida: milhões de caminhos à sua
frente. E depois? O que escolher? No fio
do novelo que puxamos se encontram milhares de opções de vida e, sem sombra de
dúvidas, todos desejam a melhor parte e, empenham-se nisso. Mas nossas escolhas
têm de fato nos levado à melhor parte? Na ânsia de ter nossos impulsos
satisfeitos recebemos o prêmio de Midas e aquilo que, no início, parecia um bem
inominável, logo se torna um peso insuportável.
Na mitologia grega, o Rei Midas havia
recolhido Sileno que perambulava bêbado e depois de trata-lo com hospitalidade,
Baco concedeu-lhe que escolhesse a recompensa que quisesse. Ávido e egoísta,
Midas pediu a Baco o poder de transformar em ouro tudo o que suas mãos tocassem
– o que lhe foi concedido. Satisfeito, Midas se maravilhava com o fato de que os
galhos que tocava pelo caminho se tornassem ouro. Mas logo percebeu que sua
escolha redundaria em desgraça. Pedindo que lhe preparassem um banquete, notou
que não poderia comer nem beber o que transformara em ouro depois de ter sido
tocado por aquilo que julgara ser um bem no início, mas que se transformara em
uma maldição no final.
Dotados da capacidade de eleição, acabamos desperdiçando
as possibilidades de escolha e, perdidos no meio do vórtice de opções, fazemos
escolhas das quais nos arrependemos, mais cedo ou mais tarde. E se o fio que
puxarmos da nossa vida nos conduz no caminho da avidez e do egoísmo, certamente
o resultado final será sempre insuportável mesmo que tenha sido aprazível no
início.
Para evitarmos o prêmio de Midas é necessário nos
colocarmos diante das possibilidades e considerar o bem e o mal nas opções
apresentadas. É um primeiro passo que raramente é dado por agirmos no impulso e
não considerarmos os motivos.
Aliás, as palavras impulso e motivo vêm bem a
calhar. Enquanto o impulso supõe uma força externa que, de repente, nos projeta
para algo, uma necessidade imperiosa, muitas vezes irresistível, que pode levar
à prática de atos descontrolados ou irrefletidos o motivo é interno, determina
ou causa alguma coisa, é a finalidade com que se faz alguma coisa.
Um carro quando precisa de pessoas para dar
impulso, está quebrado. Mas quando funciona como deve, o combustível produz a
força que o move. Um carro bom funciona pelo motor, uma pessoa boa funciona por
motivos e não impulsos. Só quando consideramos bem a escolha e o que nos move a
ela, conseguimos atingir o bem que desejamos e evitar o mal que não queremos.
A escolha do mal é um corredor sem saída no
labirinto das opções e isso, por si só, já é compreensível: o mal tira a
liberdade, escraviza e o resultado é a infelicidade. O que no início parecia
uma boa escolha, por causa de nossos impulsos (e o egoísmo é o primeiro deles)
se torna enfadonho e insuportável.
Por isso um segundo passo é ter cuidado na
escolha do bem, porque não basta escolher o bem, é necessário escolher entre os
bens a melhor parte. Saber escolher o bem é a arte de viver feliz e no
labirinto de opções, um fio deve conduzir as escolhas: O Bem que nos torna
livres. Cada vez que escolhemos o Bem nos tornamos mais livres e quanto mais
livres mais escolheremos o Bem, recolhendo a felicidade de cada ato.
Consiste, por tanto, a felicidade, na escolha
do Bem maior. Não era um mal o cuidado das tarefas da casa e dos afazeres do
tempo, mas Marta, diante do Cristo, escolhe um bem menor e por isso é
censurada. Quando escolhemos o bem menor o resultado é sempre o mesmo:
inquietação e preocupação. É necessário cuidado para não esbarrar nas paredes
depois de ter evitado os becos do mal no labirinto de opções, pois a melhor
parte nunca nos será tirada.
Entre as escolhas e a Escolha, a liberdade é o
fio que nos guia para fora do labirinto do egoísmo do Ávido Midas porque diante
do Eterno, o efêmero fica insignificante e a melhor parte é reconhecida pela
razão e querida pela vontade nos levando à liberdade e em consequência, à
Felicidade.
Pe. Fabiano de Carvalho Silva