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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pio XII era mesmo culpado?



Muitas vezes a história, por pior que o pareça, é distorcida e controvertida. O caso mais nefando que se pode contar entre o número destas barbáries é, sem dúvida o caso do Papa Pio XII que foi acusado de apoiar Hitler na chamada “solução final”. Disso o acusaram os autores Rolf Hochhuth, na peça teatral “O Vigário de Cristo”[1] e Jonh Cornwell na obra “O Papa de Hitler”[2].


Não obstante a vociferação inútil em prol de denegrir a imagem do Grande Papa dos Judeus, vozes advogadas destinaram seus esforços em trazer à tona a verdade dos fatos de modo a colocar a história de novo no eixo da verdade.
O jornalista Andrea Tornielli, nascido em Chioggia (Itália) em 1964, licenciado em Letras clássicas, recolheu num volume muito denso e não menos completo, os testemunhos em favor da postura de Pio XII.
Em seu livro “Pio XII, o Papa dos Judeus” Tornielli procura não só apontar os fatos históricos relativos àquela sombria época, mas os documenta e recorre a inúmeros autores (uma lista bibliográfica de oitenta e um livros consultados) para abalizar a verdade sobre os fatos.
Tornielli, além de evidenciar os erros de pesquisa de Cornwell, mostra ainda que a aquela pseudo pesquisa que visou denegrir o Papa dos Judeus não foi tão acurada assim, uma vez que os registros de entrada da Biblioteca Vaticana só guardam de Cornwell três únicas visitas. Corrige também, várias vezes, erros de datação cometidos pelo autor de “O Papa de Hitler”.
Percorre muitíssimos documentos, não só da Santa Sé, mas também de embaixadas e governos para mostrar a voz de Pio XII contra a Shoa e o nacional socialismo. Outrossim, recorda os grandes manifestos de Judeus agradecidos pela intervenção do Papa na luta por esconder os Judeus perseguidos – desde as grandes deportações em massa, passando pela abertura dos mosteiros, conventos (inclusive a quebra das clausuras papais) e a abertura das nunciaturas até as portas abertas de Castel Gandolfo e do Vaticano que acolheram um número expressivo de Judeus fugidos da perseguição nazi.


Recolhe tanto os pedidos de intervenção antes e durante a Grande Guerra quanto os agradecimentos enviados por eminentes judeus no pós-guerra. Apresenta em números as ajudas do Papado e apresenta assim a grande influencia da Igreja por meio de Pio XI e Pio XII.
Da nunciatura em Alemanha ao Trono Pontifício no Vaticano, Eugenio Pacelli traçou o mais importantes liame entre judeus, cristãos e poder temporal por meio de uma intrincada rede de influências – quer oficiais, por meio das nunciaturas, que extra oficiais, por meio de suas ordens secretas aos núncios, bispos, padres e religiosos, em favor de salvar o maior número possível de Judeus.
O ponto máximo do livro, certamente é tornar claro o labirinto político e diplomático no qual se encontrava Pio XII e que o levou a tomar as posturas políticas que fizeram a história acontecer:

“No discurso ao Sacro Colégio por ocasião da festa de Santo Eugenio, Pio XII diz claramente e com todas as letras que há pessoas que, por causa da sua pertença a uma determinada estirpe são submetidas a ‘coações exterminadoras’. ‘Por outro lado, não vos admireis, veneráveis irmãos e dilectos filhos, se o nosso espírito responder com solicitude particularmente cuidadosa e comovida às súplicas daqueles que se dirigem a nós, ansiosamente, atormentados como estão por razão da sua nacionalidade ou da sua estirpe, por maiores desgraças e com dores mais agudas e destinados, por vezes também sem culpa sua a coacção exterminadoras. Não esqueçam os que regem os povos que aquele que (para usar a linguagem da Sagrada Escritura) ‘detém a espada’ não pode dispor da vida e da morte dos homens, a não ser  segundo a lei de Deus, de quem lhe vem todo o poder”
(TORNIELLI, A. Pio XII, O Papa dos Judeus. Livraria Civilização Editores, Porto.)



O autor coloca ainda em paralelo com as ações da Santa Sé naquele nefando episódio as parcas ações de autoridades Aliadas em favor dos judeus.
O Livro Pio XII, o Papa dos Judeus tem 399 páginas que incluem um apêndice com reproduções de autógrafos de Pacelli – incluindo as correções autógrafas de Eugenio Pacelli na Mit brennender Sorge[3] e foi editado pela editora portuguesa Livraria Civilização Editores, Porto. Um Livro que realmente traz à luz uma parte da história que se tentou manter obscurecida.


[1] Hochhth R., Der Stellvertreter, Rohwolt Verlag, Hamburgo 1963; ________. Il Vicario, Feltrinelli, Milão 1964
[2] Cornwell, J., Il Papa di Hitler, Garzanti, Milão, 2000.  
[3] “Com profunda preocupação” de 14 de Março de 1937. Carta Encíclica de Pio XI que fez a condenação expressa e formal dos erros do nacional-socialismo alemão (nazismo).